Milei cancela discurso de independência da Argentina sob risco de evento esvaziado

Publicado em: 09/07/2025 19:44


BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Os argentinos costumam se reunir no feriado de independência de 9 de julho para comer locro (ensopado geralmente com carne, milho e abóbora), empanadas e pastelitos com chocolate, mas desde o ano passado, o presidente Javier Milei vinha tentando criar uma nova tradição para a data.

Em 2024, Milei convocou governadores e aliados para a assinatura do Pacto de Maio (apesar de ter ocorrido em julho), um gesto de força e apoio aos decretos do governo na Casa de Tucumán, o edifício histórico no norte do país, onde foi proclamada a independência.

No ano passado, com a exceção da oposição mais dura ao governo, os líderes provinciais chegaram a Tucumán para selar uma aliança política com a Casa Rosada, garantindo a aprovação da lei de bases e do pacote fiscal, dando governabilidade a Milei no Parlamento.

Até o ex-presidente Mauricio Macri, cuja aliança com Milei é marcada por uma disputa interna pelo comando da direita, compareceu -e em seguida descobriu que não havia um lugar para ele na parte principal da plateia.

O cenário agora é diferente. Neste ano, Milei até tentou repetir o evento, mas acabou desistindo na última hora. A explicação oficial foi que a viagem de avião até a província ainda na terça-feira (8) precisou ser cancelada por causa da neblina, mas a oposição aponta que ele temia um evento esvaziado, depois de apenas 3 de 24 governadores confirmarem presença.

“Está suspensa a viagem que o presidente da nação faria hoje com seu gabinete e outros funcionários do governo a Tucumán. O motivo da decisão está nos relatórios recebidos pela Casa Militar e pela Força Aérea Argentina, que se referem à situação climática que impede a realização dos voos relevantes”, escreveu no X o porta-voz da Presidência, Manuel Adorni.

A cidade festeja a data com uma tradicional vigília, que começa ainda na madrugada. Sem Milei, a cerimônia foi liderada pelo governador, Osvaldo Jaldo.

“As condições para retornar não estavam garantidas”, disse o presidente ao justificar sua ausência pelas condições climáticas, durante uma entrevista a uma rádio.

Milei garantiu que sua intenção era viajar para Tucumán e descartou que a ausência se deva ao fato de que a maioria dos governadores decidiu não comparecer à cerimônia oficial. “As especulações que eles querem fazer não importam”, disse o presidente.

Ele também atacou os governadores, dizendo que eles só querem mais recursos com a intenção de quebrar o país.

“Há uma enorme perversão por parte de alguns governadores, assim como nós baixamos os impostos, eles os aumentam. Enquanto fazemos um grande esforço para reduzir os impostos e devolver o dinheiro, eles se apropriam dele.”
Na última semana, os governos das províncias apresentaram no Senado dois projetos de lei para distribuir recursos do Tesouro e o imposto que incide sobre os combustíveis. O projeto poderia ser aprovado nesta quinta-feira (10).

Caso a rebelião dos governos locais tenha sucesso, a Casa Rosada já alertou que planeja vetar qualquer projeto que altere seu programa de déficit fiscal zero, enquanto os governadores argumentam que os números do plano de Milei se dão às custas de retirar recursos das províncias.

Enquanto o presidente faltou à comemoração em San Miguel de Tucumán, sua vice e agora desafeto, Victoria Villarruel viajou até a província para participar dos festejos, sem ter uma agenda oficial confirmada.

Com a ausência do presidente em eventos oficiais pela independência, o ex-ministro da Economia e candidato derrotado por Milei em 2023, Sergio Massa, aproveitou para criticar o opositor.

“Em 9 de julho de 1816, foi declarada a vontade de um povo: recuperar os direitos como nação livre e independente. Um país que entrega seus recursos pode ser soberano? Um país que não confia no talento de seu povo pode ser independente?”, questionou Massa em suas redes sociais.

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