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The New York Times. Bloomberg. CNBC. E até mesmo o Washington Post, que tem sido bem menos crítico ao governo americano nos últimos tempos. O Brasil (escrito com z no lugar de s) estava nas manchetes das principais páginas jornalísticas americanas na noite da quarta-feira (9) devido à decisão do presidente Donald Trump de lançar tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos a partir do dia 1º de agosto.

O que levou o Brasil ao topo das páginas não foi apenas o percentual, o maior até agora. Foi o fato de a justificativa para a decisão ter sido política, e não econômica. Trump iniciou a carta enviada na tarde da quarta-feira ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticando a “forma como o Brasil tem tratado o ex-Presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!”, diz o texto da carta, divulgada em um post da rede social de Trump, a Truth Social.

Reação na imprensa

Segundo a Forbes USA, “O presidente Donald Trump anunciou uma tarifa de 50% sobre produtos do Brasil — a maior taxa que ele anunciou desde que começou a anunciar novos impostos esta semana em cartas nas redes sociais — citando diretamente o processo em andamento no país contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, ao qual ele se referiu como uma “desgraça internacional” e uma “caça às bruxas”, escreveu o jornalista Zachary Folk. “Bolsonaro, ex-presidente de direita do Brasil, deve ser julgado por tentativa de golpe após sua derrota nas eleições presidenciais de 2022.”

O texto do The New York Times, que tem sido bastante crítico a Trump, é mais incisivo ao comentar ao assunto. “A tentativa do Sr. Trump de usar tarifas para intervir em um julgamento criminal em um país estrangeiro é um exemplo extraordinário de como ele vê as tarifas como um porrete que serve para tudo [he views levies as a one-size-fits-all cudgel]”, diz a reportagem.

“Em sua carta, o Sr. Trump afirmou que a tarifa de 50% era necessária para “ter a igualdade de condições que devemos ter com o seu país” e “para retificar as graves injustiças do regime atual”, prossegue o texto. “O Sr. Trump também afirmou incorretamente que os Estados Unidos tinham um déficit comercial com o Brasil. Durante anos, os Estados Unidos mantiveram um superávit comercial com o Brasil, incluindo um superávit de US$ 650 milhões (R$ 3,6 bilhões) nos primeiros três meses de 2025, sobre US$ 20 bilhões (R$ 110 bilhões) em comércio entre os dois países, de acordo com a Câmara de Comércio Americana para o Brasil.”

O site de notícias CNBC também notou o novo propósito da carta. Ela “segue quase duas dúzias de outras que Trump enviou recentemente a outros líderes mundiais (…). Mas a carta a Lula vai além das demais, impondo uma nova alíquota de imposto de importação dos EUA explicitamente como punição para um país que se envolve em questões políticas e jurídicas internas que desagradam a Trump”, segundo a CNBC.

Superávit comercial

Várias publicações notaram que os Estados Unidos exportam mais para o Brasil do que importam. Segundo a CNN, “ao contrário dos outros 21 países que receberam cartas de Trump esta semana, o Brasil não enfrentaria tarifas ‘recíprocas’ em abril. Em vez disso, os produtos de lá foram tarifados em um mínimo de 10%, que é a taxa que Trump vem cobrando da maioria dos produtos de países que enfrentariam tarifas ‘recíprocas. E, ao contrário dos outros 21 países, os EUA tiveram um superávit comercial de US$ 6,8 bilhões com o Brasil no ano passado”.

A CNN notou que “apesar do descontentamento de Trump com o julgamento de Bolsonaro, ele escreveu que ‘não haverá tarifa se o Brasil, ou empresas do seu país, decidirem fabricar ou fabricar produtos nos Estados Unidos’. Trump fez ofertas quase idênticas em uma série de outras cartas que enviou a chefes de Estado esta semana”, segundo a CNN.