Haddad diz que sobretaxas de Trump são políticas e acusa família Bolsonaro de conspiração

Publicado em: 11/07/2025 06:20


PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a sobretaxa implementada pelos Estados Unidos contra setores econômicos do Brasil é motivada por uma “decisão eminentemente política” do governo de Donald Trump.

“Nos últimos 15 anos, nós tivemos um déficit de bens e serviços de mais de US$ 400 bilhões com os Estados Unidos. Não há racionalidade econômica na medida que foi tomada”, disse o ministro.

Em entrevista concedida a portais de esquerda nesta quinta-feira (10), Haddad disse também que o ex-presidente Jair Bolsonaro e o deputado federal Eduardo Bolsonaro atuam para desestabilizar o país.

“Setores econômicos hoje estão de cabelo em pé, buscando apoio do governo para encontrar uma solução para um problema criado por uma família.”

“Quando se tem uma força interna trabalhando contra o interesse nacional, em proveito do interesse individual, aí você tem problemas”, disse o ministro. Segundo ele, o ex-presidente age contra interesses nacionais para proveito próprio.

“Isso é assumido publicamente pela pessoa que está nos Estados Unidos, em nome da família Bolsonaro, conspirando contra o Brasil e ameaçando o país, dizendo que, se não houver anistia, a situação tende a piorar. O que significa isso? Não conheço precedente histórico para uma coisa tão vergonhosa quanto a atitude dessa família.”

Segundo Haddad, os indicadores econômicos apontam que os Estados Unidos têm uma tarifa efetiva de 2,7%, abaixo da média de 5,2%. “É um tipo de narrativa que não tem aderência à realidade. Se tivesse, nós deveríamos estar negociando, mas nem isso.”

A sobretaxa de 50%, disse, é “insustentável, tanto do ponto de vista econômico quanto do ponto de vista político” e, por isso, não acredita que ela será mantida. O ministro também elogiou a diplomacia brasileira e disse que o Itamaraty é bom negociador, citando os avanços no acordo econômico com a União Europeia e novas parcerias com países asiáticos.

Haddad afirmou que o Brasil tem agendas importantes em comum com os Estados Unidos, especialmente nos setores de tecnologia e transição energética, e que o país tem o maior aporte de capital no Brasil.

Entretanto, disse que há “uma enorme confusão a respeito da atitude brasileira” em relação à postura global e ao Brics. “O Brasil é grande demais para ser um apêndice de bloco econômico”, disse o ministro. “Nós não estamos dando mais ou menos espaço para quem quer que seja. O Brasil está procurando parcerias para se desenvolver com a maior tranquilidade e o maior pragmatismo possível.”

Haddad também defendeu a atuação do governo Lula em relação ao IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), mas disse que é possível buscar uma solução na Câmara dos Deputados. “Este Congresso está fazendo as correções que o governo está propondo. Por que esse Congresso, que estava nos ajudando até outro dia, vai parar de nos ajudar? Não faz sentido. Nós vamos continuar na mesa de negociação”

À tarde, o titular da Fazenda voltou a comentar a sobretaxa anunciada por Trump. “Esse tipo de retaliação com finalidade político-ideológica é contraproducente. Ele desrespeita os 200 anos de tradição diplomática entre os dois países que se dão muito bem”, afirmou.

Segundo Haddad, alternativas estão sendo estudadas por membros do governo Lula e, em uma eventual retaliação, podem ser pensadas diversas medidas não tarifárias que não impactem a inflação.

“Há uma série de alternativas que vão ser consideradas. Isso não significa que vão ser acionadas, porque o nosso desejo é que até lá [1º de agosto] isso tenha sido superado”, disse. “Se houver boa vontade, nós vamos superar esse mal-entendido.”


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