Política de cotas mudou debate público no Brasil: ‘racismo era tabu?
A gente tinha um sistema muito perverso, em que a maior parte da população financiava a reprodução de uma elite branca a partir de uma universidade pública gratuita. Com o sistema de cotas, a gente mitiga minimamente essa desigualdade. Márcia Lima, socióloga
Presença de pretos, pardos e indígenas no ensino superior público cresceu de 31,5% em 2001 para 52,4% em 2021. No mesmo período, a participação de estudantes das classes C, D e E também aumentou significativamente, passando de 19,3% para 50%, segundo dados da Pnad.
Em 2016, os 20% mais ricos ocupavam cerca de 35% das vagas nas universidades, enquanto os 60% mais pobres triplicaram sua presença. Em 1992, esse cenário era bem diferente, os ricos ocupavam mais de 70% das vagas e os pobres, apenas 10%. Os dados, da Pnad, mostram como o perfil socioeconômico do ensino superior mudou entre 1992 e 2019.
Os mais pobres saíram de um percentual muito baixo e foram para um percentual mais alto. Isso garantiu com que a maior parte das pessoas que financiam a universidade pública no Brasil pudesse finalmente entrar na Universidade Pública do Brasil. Então a gente considera que as mudanças socioeconômicas são até mais radicais do que as mudanças raciais Luiz Campos
Presença de grupos antes excluídos tem aproximado saberes ancestrais da ciência tradicional, mudando a forma como o saber é produzido, afirma Campos. As pesquisas também estão se tornando mais diversas, incluindo temas de interesse de toda a população, até mesmo nas ciências exatas, afirma o pesquisador.
Apesar do sucesso da política de cotas, a discriminação contra estudantes cotistas continua, destaca a socióloga Márcia Lima. A situação varia conforme a instituição, a região do país e o curso, diz. “Os cursos onde a presença negra era menor antes das cotas, são cursos onde a gente encontra mais desafios.”