Quantas Vezes Trump Já Recuou em Sua Política Tarifária?
Anna Moneymaker/Getty Images
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Os meses desde o anúncio das tarifas do “Dia da Libertação” feito pelo presidente Donald Trump em abril têm sido marcados por reviravoltas constantes. A decisão mais recente de Trump — de adiar a aplicação das tarifas até agosto — é apenas mais uma em uma longa sequência de mudanças de rumo, defendidas por alguns como uma jogada genial de negociação e vista por outros, em Wall Street, como prova de que “Trump sempre recua”.
A Forbes USA lista 28 episódios em que o presidente americano mudou de ideia em relação às taxações.
28 recuos de Donald Trump
2 de abril – Recuo nº 1
A data marcou formalmente o lançamento da política tarifária de Trump, que impôs taxas abrangentes sobre quase todos os países. Ao mesmo tempo, voltou atrás sobre isentar “cobre, produtos farmacêuticos, semicondutores, artigos de madeira, certos minerais críticos e energia, e produtos energéticos”, mesmo o governo tendo afirmado que não haveria exceções.
Nº 2
As tarifas também não foram totalmente “recíprocas”, como Trump havia prometido. Em vez de serem equivalentes às taxas cobradas por cada país sobre produtos americanos, o presidente afirmou que “as tarifas não serão totalmente recíprocas”, pois “isso seria difícil para muitos países e não quisemos fazer isso”.
Nº 3
Outro ponto é em relação ao cálculo para definir a taxação. Inicialmente, a promessa era de que haveria uma fórmula sofisticada, que consideraria não apenas as tarifas existentes, mas também as barreiras não tarifárias de cada país. No entanto, especialistas determinaram que, na prática, as tarifas do “Dia da Libertação” foram calculadas apenas dividindo o superávit comercial de cada país com os EUA pelo valor total de suas exportações.
3 de abril – Recuo nº 4
Horas depois de Peter Navarro, assessor de comércio de Trump, afirmar à CNBC que as tarifas do governo “não eram uma negociação”, Trump disse a repórteres que estava aberto a fazer acordos com outros países “desde que nos deem algo que seja bom”.
4 a 7 de abril – Recuo nº 5
Trump e seus assessores apresentaram opiniões divergentes nos dias seguintes sobre se o governo estaria ou não aberto a negociar as tarifas com outros países. O presidente afirmou no Truth Social que suas tarifas “NUNCA MUDARÃO”, pouco antes de seus assessores sugerirem que outros países estavam buscando iniciar conversas comerciais. Mais tarde, em 7 de abril, Trump declarou que “ambas as coisas podem ser verdadeiras” e que “pode haver tarifas permanentes e também negociações”.
9 de abril – Recuo nº 6
Trump suspendeu inesperadamente as taxas mais duras do “Dia da Libertação” por 90 dias — apenas algumas horas após entrarem em vigor e derrubarem o mercado de ações. Ele manteve apenas uma tarifa básica de 10% e taxações mais altas sobre produtos chineses, apesar de ter declarado anteriormente que não iria adiar as tarifas.
Recuo nº 7
Trump também contradisse quase imediatamente as declarações de seus assessores de que a suspensão das taxas já estava nos planos. Segundo ele, a decisão foi tomada naquela manhã, depois que “algumas pessoas estavam passando um pouco dos limites” e “ficando agitadas”.
11 de abril – Recuo nº 8
A Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA emitiu uma orientação isentando smartphones, computadores e outros dispositivos eletrônicos das tarifas, apesar das repetidas declarações de Trump e de assessores como Howard Lutnick de que queriam que essa produção fosse transferida para os Estados Unidos.
13 de abril – Recuo nº 9
No entanto, o presidente americano negou que houvesse qualquer isenção para eletrônicos, afirmando na Truth Social que “nenhuma ‘exceção’ tarifária foi anunciada na sexta-feira” e que as tarifas sobre smartphones e outros produtos estavam “apenas mudando para outra ‘categoria’ tarifária”, mesmo com membros de seu próprio governo já descrevendo a medida como uma isenção.
22 de abril – Recuo nº 10
Após dizer que estava “confortável” com a tarifa de 145% sobre importações chinesas, Trump afirmou a repórteres que pretendia reduzir essa taxa, dizendo que não queria jogar “pesado” com a China e que a tarifa “vai cair bastante, mas não vai a zero”.
29 de abril – Recuo nº 11
Trump assinou uma ordem executiva isentando empresas que pagam a taxa de 25% sobre carros e autopeças importadas de pagar outras tarifas sobre itens específicos, como aço e alumínio.
6 de maio – Recuo nº 12
O republicano, que antes disse que negociaria com “todo mundo”, minimizou as chances de firmar acordos comerciais em breve e sugeriu que seus assessores estavam se expressando mal, ao dizer que queriam fechar acordos com todos os países que pedissem.
Recuo nº 13
O presidente também afirmou que não sentia urgência em iniciar negociações com a China e declarou que os EUA “não perdem nada” ao deixar de negociar com Pequim — para, poucas horas depois, seu governo anunciar que representantes participariam de conversas com autoridades chinesas na Suíça, no final de semana.
12 de maio – Recuo nº 14
Depois de Trump sugerir publicamente uma tarifa de 80% sobre produtos chineses, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e autoridades chinesas anunciaram uma pausa de 90 dias nas tarifas mais pesadas entre os dois países, com os EUA reduzindo a taxa para a maioria das importações chinesas para 30%.
16 de maio – Recuo nº 15
O republicano sugeriu pela primeira vez que seu governo enviaria cartas a países que impusessem novas tarifas sem firmar acordos, dizendo: “Temos 150 países que querem fazer um acordo, mas vocês não conseguem ver tantos assim.”
18 de maio – Recuo nº 16
Bessent amenizou as declarações de Trump sobre as cartas, dizendo à CNN e ao “Meet the Press” que elas só seriam enviadas a países que não negociassem de “boa fé”, informando que suas tarifas voltariam às taxas de 2 de abril.
23 de maio – Recuo nº 17
Depois de retirar as tarifas sobre smartphones, Trump ameaçou taxar iPhones em 25% em um post na Truth Social, afirmando que imporia a tarifa se os celulares vendidos nos EUA não fossem “fabricados e montados país, ao invés da Índia ou em qualquer outro lugar”.
Recuo nº 18
O presidente americano também ameaçou impor novas tarifas de 50% sobre importações da União Europeia a partir de 1º de junho, escrevendo em sua rede social que o bloco “tem sido muito difícil de lidar” e que as “discussões com eles não estão indo a lugar nenhum!”
23 de maio – Recuo nº 19
Bessent voltou atrás nas sugestões anteriores do governo de que seria possível fechar “90 acordos em 90 dias”, dizendo à Fox News apenas que espera ver “cada vez mais” acordos sendo anunciados “à medida que nos aproximamos do fim do período de 90 dias”, em 9 de julho.
25 de maio – Recuo nº 20
Trump adiou para 9 de julho as tarifas de 50% planejadas contra a União Europeia, afirmando que iria “se reunir rapidamente” com líderes europeus para “ver se conseguimos chegar a algum acordo.”
30 de maio – Recuo nº 21
O republicano anunciou um aumento das taxas sobre o aço de 25% para 50% durante um evento na Pensilvânia, afirmando que a nova alíquota entraria em vigor em 4 de junho.
11 de junho – Recuo nº 22
Bessent declarou ao Congresso que era “altamente provável” que Trump prorrogasse a suspensão das tarifas para concluir negociações com parceiros comerciais e o próprio presidente disse a repórteres que não descartava essa possibilidade.
3 de julho – Recuo nº 23
Trump sugeriu que poderia aplicar tarifas muito mais altas do que as anunciadas no “Dia da Libertação”, quando o teto era de 50%. Ele afirmou a repórteres que começaria a enviar cartas a outros países impondo tarifas que poderiam variar entre 10% e 60%.
6 de julho – Recuo nº 24
Trump anunciou na Truth Social que sua administração começaria a enviar “cartas e/ou acordos” tarifários a outros países a partir do meio-dia do dia seguinte, adiando o cronograma anterior que previa o envio em 4 de julho.
Recuo nº 25
O presidente americano também ameaçou tarifas adicionais de 10% sobre “qualquer país que se alinhar às políticas antiamericanas do BRICS” — referindo-se ao bloco que inclui Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã —, depois que a organização criticou as tarifas de Trump em sua cúpula. Mais tarde, ele cumpriu a ameaça e impôs tarifas de 50% sobre o Brasil.
7 de julho – Recuo nº 26
Trump prorrogou formalmente o prazo das tarifas do “Dia da Libertação” para 1º de agosto, depois de enviar cartas a 14 países impondo novas tarifas a partir dessa data, caso não negociem acordos comerciais com seu governo.
8 de julho – Recuo nº 27
Trump voltou atrás quanto à rigidez da data de 1º de agosto. Na ocasião, disse a repórteres que o prazo era “firme, mas não 100%”. No dia seguinte, afirmou na Truth Social que “não haverá mudança” na data e que “nenhuma prorrogação será concedida”.
11 de julho – Recuo nº 28
Trump deu a entender que poderia aumentar a tarifa básica sobre importações de países com os quais sua administração não fechar acordos específicos, atualmente em 10%, dizendo à NBC News: “Vamos apenas dizer que todos os países restantes vão pagar, seja 20% ou 15%”.
“TACO Trump”
As frequentes mudanças de posição de Trump em relação às tarifas — e a tendência de recuar depois que o mercado reage mal — renderam ao republicano o apelido de “TACO Trump” em Wall Street, sigla para “Trump Always Chickens Out” (Trump sempre amarela, em tradução para o português).
No mês de junho, estrategistas do Deutsche Bank elevaram suas projeções para o índice S&P 500 com base na crença de que o presidente americano “já recuou” nas tarifas e que fará isso novamente. Analistas de Wall Street sugeriram que o mercado acionário reagiu de forma contida à nova rodada de cartas tarifárias do presidente, principalmente por causa da sua tendência de desistir das ameaças.
O principal analista de mercado do IG Group, Chris Beauchamp, classificou a nova rodada de tarifas como “um tiro n’água”, argumentando: “Com razão ou não, os investidores acham que já sabem o que vai acontecer a partir daqui.” “Ou as negociações avançam e algum tipo de ‘acordo’ (geralmente nos termos mais vagos possíveis) é anunciado, permitindo que Trump declare vitória, ou um novo adiamento do prazo é divulgado.”
O que disse o governo Trump?
O porta-voz da Casa Branca, Kush Desai, criticou as acusações de “TACO Trump” em uma declaração à Forbes, dizendo que a posição do governo sobre comércio “nunca mudou: as décadas de práticas comerciais estrangeiras injustas que deixaram os trabalhadores americanos para trás acabaram.”
“A obsessão idiota da mídia com memes estúpidos não vai mudar o fato de que o presidente Trump está usando as tarifas com sucesso para proteger indústrias americanas, impulsionar trilhões em compromissos históricos de investimento, renegociar acordos comerciais desequilibrados e gerar bilhões em receita para o governo federal.”
Kush Desai
Trump chamou o apelido “TACO Trump” de “ofensivo” e rejeitou a sugestão de que estaria “amarelando”.
A Justiça pode barrar as tarifas de Trump?
Dois tribunais já decidiram que as tarifas do “Dia da Libertação” de Trump são ilegais e que o presidente ultrapassou sua autoridade ao impô-las. No entanto, continuam vigentes, pois tribunais de apelação suspenderam essas decisões, enquanto os processos seguem. A audiência do tribunal de apelações, sobre a ação mais ampla contra a taxação, está marcada para 31 de julho, então nenhuma mudança legal deve ocorrer antes dessa data.
Os autores de uma das ações pediram à Suprema Corte que julgasse o caso em caráter de urgência, solicitando que os ministros ouvissem os argumentos já no início do próximo período de sessões ou até antes. No entanto, a corte rejeitou o pedido.
Novas mudanças?
Ainda não está claro como serão as alíquotas das tarifas e quais países serão atingidos, quando a suspensão for encerrada em 1º de agosto. Isso porque o próprio presidente escreveu nas cartas, enviadas a algumas nações, que os valores estão sujeitos a alterações, dependendo da relação entre o país taxado e os Estados Unidos.
Muitos dos países atingidos prometeram continuar as negociações para tentar conseguir condições melhores antes do fim do prazo. Os acordos comerciais também não devem eliminar completamente as tarifas de nenhum país. Após as negociações com o Reino Unido, Howard Lutnick afirmou que, para países com déficit comercial com os EUA, “o melhor que podem conseguir é 10% — e, na maioria dos casos, será mais do que isso.”
Trump também ameaçou impor tarifas de 200% sobre produtos farmacêuticos e outros itens, como semicondutores, mas ainda não se sabe se essas medidas vão mesmo sair do papel. Parlamentares democratas pediram ao governo americano que isente produtos para bebês. Bessent declarou em maio que isso estava “em análise”, mas a Casa Branca ainda não anunciou nenhuma decisão sobre esses produtos.
Além disso, a oposição critica as mudanças constantes na política tarifária de Trump, alegando que isso prejudica ainda mais a economia. “A Casa Branca não faz ideia do que está fazendo com as tarifas e segue mudando de posição. Lutnick agora diz que as isenções tarifárias, como no caso dos iPhones, são temporárias. Por que fazer uma isenção se você vai desfazê-la em seguida?”, escreveu o deputado Ted Lieu (Califórnia) na rede X, em 13 de abril. “A Casa Branca não tem estratégia e está perdendo credibilidade rapidamente.”