A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.

Depois de gerar incertezas nas exportações de carne bovina brasileira para os Estados Unidos, o tarifaço anunciado pelo presidente Donald Trump começa a afetar também outra ponta da cadeia produtiva: o preço do boi gordo — animal pronto para o abate.

Dados do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro), da UFRGS, mostram que o valor do quilo do boi gordo caiu 2,7% em apenas uma semana no Rio Grande do Sul, chegando a R$ 10,70. No Brasil Central — principal região fornecedora da carne destinada ao mercado norte-americano — a queda foi ainda mais expressiva: 7,5%, com o quilo sendo negociado a R$ 9,98.

Para Júlio Barcellos, coordenador do Nespro, a queda repentina acende um sinal de alerta:

— É muito significativo para um setor que vinha recuperando preço em plena entressafra, com a ascensão dos preços, e agora uma travada brutal.

Embora o Rio Grande do Sul tenha participação modesta nas exportações de carne bovina para os EUA — com apenas duas plantas habilitadas —, os impactos são sentidos no Estado. Isso porque a carne antes destinada ao exterior tende a ser redirecionada ao mercado interno, aumentando a oferta e, consequentemente, pressionando os preços para baixo.

— Hoje, 50% do bife que está no prato gaúcho já vem de fora do RS — lembrou Barcellos.

Além disso, não é uma tarefa “simples” realocar o volume de carne exportado ao país americano. Atualmente, os EUA compram cerca de 200 mil toneladas de carne bovina brasileira por ano, o que representa aproximadamente 20% das exportações do setor. 

— São cerca de dez países vendendo e dez países comprando a maior parte da carne que circula pelo mundo em navios — observou o coordenador do Nespro.

Por ora, os efeitos do tarifaço ainda não chegaram ao varejo, mas isso deve mudar em breve, alerta Barcellos:

—  Talvez no mês que vem.

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