Como o mundo do tênis reagiu à pausa de Bia Haddad

Publicado em: 23/09/2025 15:55

SANTOS, SP (FOLHAPRESS) – O anúncio de Beatriz Haddad Maia, 29, de encerrar a temporada de forma antecipada e colocar a raquete de lado -ao menos por um tempo- foi recebido com compreensão e apoio por ex-atletas, técnicos e especialistas.

A decisão, embora implique queda no ranking da WTA (Associação das Tenistas Profissionais), é vista como necessária para que a brasileira possa recuperar o equilíbrio físico e mental.

“Acho que ela fez bem. O tênis é um estilo de vida que exige muito do lado mental. Se o momento é conturbado, fica difícil ter resultados expressivos. A parte emocional é tão importante quanto a física. Essas pausas, esse afastamento da rotina de tenista, podem fazer com que ela volte ainda mais forte. O ranking é secundário agora”, disse à reportagem Thomaz Bellucci, ex-número 21 do mundo em simples.

Atualmente técnico de jovens promessas, Bellucci deixou oficialmente as quadras em fevereiro de 2023, no Rio Open, e já falou abertamente sobre a depressão enfrentada na reta final da carreira. Segundo ele, o momento durou cerca de cinco anos, tendo o seu auge em 2020.

“Nos últimos anos da minha carreira estava em um momento muito difícil. Não conseguia aceitar os resultados que estava tendo. Foi forte o que houve em Seul, mas muito comum. A diferença é que alguns atletas disfarçam mais”, avalia.

A decisão de parar por um período chega após meses de sinais de desgaste. Atual 40ª colocada, Bia alcançou o top 10 do mundo em 2023 e se firmou como referência no tênis sul-americano, mas enfrentou dois anos turbulentos, com lesões, derrotas inesperadas e crises emocionais em quadra.

Na última delas, no WTA 500 de Seul, chamou a atenção do mundo do tênis a imagem da paulistana à beira da quadra, passando a toalha no rosto com visível dificuldade para respirar. Microfones captaram o esforço para puxar o ar. Durante o atendimento médico, as mãos da brasileira tremiam enquanto ela tentava segurar uma garrafa d’água.

“O sistema nervoso central controla as emoções e interfere até na parte motora”, avalia a ex-tenista Patrícia Medrado, brasileira com mais tempo no top 100 da WTA e medalhista de prata no Pan de 1975. “A gente via que ela sabia o que fazer em quadra, mas não conseguia executar. Isso é sinal de que o desgaste mental ultrapassou todos os limites.”

Para Medrado, a pausa pode ser um divisor de águas: “o ranking vai cair, claro, mas essa decisão tira um peso enorme das costas dela. Quando você está defendendo pontos, a pressão é gigante. Agora, ela pode voltar mais leve, sem a obrigação de defender nada, apenas mirar para cima. É uma chance de resetar tudo.”

Casos semelhantes não são raros. Em janeiro deste ano, o russo Andrey Rublev, então número 9 da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais), deu fortes declarações admitindo ter passado a tomar antidepressivos em 2024, após Wimbledon, e “ter perdido sentido em viver a vida”. Ele tratou a doença com sessões de terapia.

“Era visível que ela [Bia] estava sofrendo”, disse Luís Stival, analista de desempenho de tênis profissional, responsável pelo canal de YouTube Tênis Além do Óbvio. “Foi um gesto corajoso admitir que precisava parar. O circuito de tênis é emocionalmente brutal, o que mais exige de todos os esportes. Você via uma Bia diferente, e isso mexe muito com qualquer atleta. Essa pausa é um ato de humanidade e grandeza”, afirma.

Ex-número 2 do mundo nas duplas e vencedor de dois Grand Slams, Bruno Soares diz acreditar que, caso recuperada mentalmente, Bia “terá nível para estar novamente entre as 10 do mundo”, mas, para isso, precisa estar bem com ela mesma.

“É muito mais importante voltar descansada e preparada para 2026 do que insistir agora e se desgastar ainda mais”, sintetizou.

O experiente ex-tenista e técnico Ricardo Acioly, o Pardal, associa ao recente caso envolvendo a americana Amanda Anisimova, que parou de competir por quase um ano. Curiosamente, ela cruzou o caminho de Bia Haddad nas oitavas de final do US Open, no início deste mês.

“O impacto no ranking existe, mas não será devastador. O fundamental é que ela terá tempo para ajustar seu jogo, analisar o que não funcionou nesta temporada e voltar mais competitiva. Vimos outras jogadoras, como a Anisimova, fazerem o mesmo e retornarem em altíssimo nível”, afirmou Pardal.

A atleta, hoje com 22 anos, precisou paralisar a carreira duas vezes: pela perda precoce do pai e treinador, aos 17, e por burnout. Em seu Instagram, a tenista relatou que estava “lutando contra sua saúde mental” e que o tênis havia se tornado “insuportável”.

“Ela não está fazendo isso porque quer tirar férias. Há um peso por carregar a tocha do tênis feminino brasileiro sozinha nos últimos anos”, completa Pardal.
Em junho, foi a vez da tunisiana Ons Jabeur anunciar o afastamento das quadras pelo mesmo motivo. Ela seria a principal atração internacional da primeira edição do SP Open, WTA 250 jogado no país.

Bia não estipulou um prazo para a sua volta, mas deu uma deixa de que isso ocorrerá em sua carta de afastamento: “tenis, eu te amo. Em breve nos vemos novamente”.

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