Hamas diz ter matado supostos ‘colaboradores de Israel’ enquanto tenta retomar Gaza
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A retirada das tropas de Israel de parte da Faixa de Gaza, um dos compromissos do cessar-fogo assinado na segunda-feira (13), abriu espaço para o grupo terrorista Hamas avançar sobre as ruínas da guerra de dois anos na tentativa de retomar o controle do território palestino.
A ação tem rendido cenas brutais, como a que mostra o assassinato de sete pessoas em uma rua da Cidade de Gaza. Em uma clara demonstração do retorno do grupo, os combatentes arrastam homens acusados de colaborarem com Israel, forçam-nos a se ajoelhar e atiraram neles pelas costas.
O vídeo foi publicado pela TV do Hamas no Telegram, e sua autenticidade foi confirmada por um membro do grupo à agência de notícias Reuters.
Antes disso, no domingo (12), o Ministério do Interior de Gaza já havia afirmado que confrontos entre o Hamas e outro grupo armado haviam matado ao menos 27 pessoas, incluindo oito membros da facção que controlava o território até o início da guerra.
Nesta terça-feira (14), moradores de Gaza disseram que os combatentes estavam sendo vistos com mais frequência. Testemunhas relataram à agência de notícias AFP intensos combates no bairro de Shejaia, na Cidade de Gaza, perto da fronteira atrás da qual as unidades israelenses seguem controlando cerca de metade do território. Segundo elas, os confrontos envolviam uma unidade afiliada ao Hamas e grupos armados, incluindo alguns supostamente apoiados por Israel.
Jornalistas da AFP dizem que, desde que o cessar-fogo entrou em vigor, têm observado a presença de membros do grupo terrorista em mercados e rodovias de várias cidades da Faixa de Gaza. Uma fonte da segurança palestina da facção declarou à agência que o corpo de segurança do Hamas, uma unidade criada recentemente e batizada de “Força de Dissuasão”, estava realizando operações para garantir “segurança e estabilidade”.
Embora o desarmamento do Hamas seja uma exigência da trégua -algo que a facção se nega a fazer sem a garantia da criação de um Estado palestino–, os Estados Unidos, um dos principais mediadores do acordo, parecem ter autorizado o grupo a policiar temporariamente o território.
Questionado por um jornalista na segunda sobre os relatos de que o Hamas estava agindo para derrotar rivais em Gaza, o presidente americano, Donald Trump, afirmou que o grupo agia dentro dos parâmetros do acordo.
“Eles querem acabar com os problemas e têm sido abertos sobre isso, e nós lhes demos aprovação por um período de tempo”, disse Trump. “Temos quase 2 milhões de pessoas voltando para prédios que foram demolidos, e muitas coisas ruins podem acontecer. Então, queremos que seja seguro. Acho que vai ficar tudo bem. Quem sabe com certeza?”
Enquanto era praticamente aniquilado por Israel nos últimos dois anos, o Hamas enfrentava crescentes desafios internos vindos de rivais de longa data. As principais facções que operam no território são Abu Shabab, Doghmosh, Al-Majayda e Rami Hellis.
A primeira é acusada pelo Hamas de colaborar com Israel, o que o grupo nega. A última opera na Cidade de Gaza e tem sua sede no subúrbio de Shejaia, onde foram registrados confrontos nesta terça. Há alguns meses, a facção se juntou com outro grupo para operar em partes do bairro que ainda estão sob controle do Exército israelense, em desafio ao Hamas.
Para muitos palestinos que tentam reconstruir seus lares e suas vidas em meio aos escombros, a presença do Hamas é tranquilizadora. “Começamos a nos sentir seguros”, afirmou Abu Fadi al Banna, 34, em Deir al-Balah, no centro de Gaza, à AFP. “Começaram a organizar o trânsito e a desobstruir os mercados. Nos sentimos protegidos dos delinquentes e dos ladrões.”
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