Jovem revela o “grande fator” que a levou acreditar que era Maddie McCann

Publicado em: 28/10/2025 08:06


Pela primeira vez desde o início do julgamento, Julia Wandelt, acusada de perseguir a família de Madeleine McCann, alegando ser a criança desaparecida, falou em tribunal.

Wandelt, questionada pelo seu advogado, começou por explicar quando e porque é que começaram a surgir as dúvidas quanto à sua própria identidade.

“Quando eu era adolescente, comecei a fazer terapia, devido a níveis extremos de automutilação”, confessou a jovem de 24 anos. Foi nesta época que as dúvidas começaram a surgir.

“A minha mãe tem cabelo e olhos castanhos. O meu pai tem cabelo escuro, agora grisalho, mas era escuro, e olhos castanhos também”, disse Wandelt, que tem cabelo e olhos claros e cujas memórias, segundo a própria, só começam a partir dos oito, nove anos.

A partir daí as dúvidas só se intensificaram. Apesar de pedir para ver as suas fotografias de infância, durante vários anos, Wandelt disse que os seus pais sempre se recusaram a mostrar-lhe as imagens.

Mais tarde, pediu para ver a sua certidão de nascimento “muitas vezes”: “Nunca me deixaram ver”.

Nesta época, a jovem já acreditava ser adotada e, por isso, pediu aos pais para fazerem um teste de DNA, mas eles “recusaram sempre”.

“Fiquei surpreendida, porque não estava à espera que eles dissessem que não, especialmente porque na época eu ainda estava lidando com muitos problemas emocionais”, recordou, citada pela Sky News.

Após a rejeição, Wandelt ligou para o registo da cidade onde nasceu, pedindo uma cópia da sua certidão de nascimento, onde lhe foi dito, “de imediato” que ela não era adotada.

“[Isto] fez-me questionar ainda mais, porque na Polônia [onde Wandelt nasceu], esta instituição não tem autorização para dar informação pessoal sem verificação”, disse.

Questionada perentoriamente pelo advogado, se hoje achava que era filha dos pais que tinha conhecido uma vida inteira, Wandelt respondeu com um simples “não”.

Abusador de Wandelt já teria raptado alguém

A jovem contou ainda em tribunal que foi abusada por um familiar idoso, e que o seu pai comentou com ela que esse homem, em tempos, chegou a raptar uma pessoa. Terá sido isto que levou à etapa seguinte da sua investigação: começar a verificar dados de base de pessoas desaparecidas, na procura por alguém com caraterísticas semelhantes às suas.

“Havia muitas pessoas com idades perto da minha”, disse, explicando que chegou a encontrar uma – Acacia Bishop – chegando a pensar que tinha uma ligação com a desaparecida.

Mesmo assim, “achei que devia olhar para outras crianças desaparecidas” para continuar a procurar semelhanças.

Foi em junho de 2022, que se deparou com o caso de Madeleine McCann, debruçando-se sobre sites dedicados a teorias sobre o desaparecimento da criança e até grupos de Facebook. Neles, Wandelt disse ter encontrado indicadores que a fizeram acreditar que podia ser a menina desaparecida em Portugal, há já duas décadas.

“Foi atraída pelo caso de Madeleine por causa da publicidade?”, questionou o advogado de Wandelt.

“Não”, respondeu.

“Foi atraída pela possibilidade de ganhos financeiros?”, continuou o defensor da jovem.

De novo: “Não”.

“Qual foi o seu interesse?”, perguntou, por fim, o advogado

“Eu só queria descobrir quem é que eu sou”, confessou Wandelt.

Wandelt diz ter contactado McCann só após ter a certeza

Em 24 de junho, convencida de que podia ser Maddie, enviou um e-mail à Operação Grange, a operação policial encarregada de investigar este desaparecimento.

“Olá. Estou a escrever a vocês porque acho que posso ser Madeleine McCann, e a razão pela qual eu acho que posso ser a Maddie. Primeiro, eu vi fotografias de quando era mais nova, eu tinha a mesma marca no olho, apesar de agora estar mais desvanecida”, lê-se na mensagem.

Entre outras razões, Wandelt enumera ainda que os seus documentos de identidade podiam ter sido falsificados e ela pode, na verdade, ser mais nova; os seus pais recusam-se a mostrar-lhe a sua certidão de nascimento; e não tinha memórias anteriores aos 9 anos.

Não foi a única vez que Wandelt contactou as autoridades, nem foram estas as únicas a serem contactadas pela jovem, que achava ser Madeleine McCann. Embaixadas, ministros, jornalistas, investigadores privados no Reino Unido, Portugal e Polônia… Wandelt contactou todos na esperança de que alguém lhe pudesse dar respostas.

“Eu não queria contactar Kate e Gerry [os pais de Maddie] e a família McCann antes de ter falado com todas as pessoas que podia”, garantiu Wandelt. “Eu queria tentar tudo, todas as instituições, antes de falar com eles. Não lhes queria dar falsas esperanças”, admitiu em tribunal.

Abusador de Wandelt e suspeito no caso Maddie compartilhavam sobrenome

As certezas de Wandelt ficaram ainda maiores quando descobriu que o homem que a tinha abusado quando era criança usava o mesmo sobrenome de um dos suspeitos iniciais do casos da Maddie: foi “um grande fator”, admitiu em tribunal, para que acreditasse que era efetivamente a criança desaparecida.

Neste julgamento já foi feito um teste comparando o DNA de Wandelt com o dos pais de Maddie: ficou provado que não havia qualquer relação familiar entre as duas partes.

“Poderíamos ficar tentados a pensar que isto tem alguma credibilidade. Mas, nesta fase inicial do julgamento, podemos deixar claro que Julia Wandelt não é Madeleine McCann”, referiu o procurador Michael Duck KC.

Foi, neste momento, ao ouvir as palavras de Duck, que a polonesa começou a chorar, levantou-se e tentou sair por uma porta que dava acesso às celas. A jovem foi consolada pela amiga Karen Spragg, de 61 anos, que é também acusada de ajudar Wandelt a perseguir os McCann.

Durante o julgamento, foi revelado que Wandelt já se havia feito passar por outras duas crianças desaparecidas – uma menina alemã, que nasceu oito anos antes de Julia, e uma norte-americana cuja avó foi julgada pelo seu assassinato.

A jovem polonesa teria usado o ChatGPT para criar fotos falsas, que depois enviou para a irmã mais nova de Maddie e onde supostamente surgiam ambas quando eram mais novas. O procurador descreveu as mensagens enviadas a Amelie McCann como “manipulação emocional”.

Julia Wandel declarou-se inocente da acusação de perseguição à família McCann em abril deste ano.

A jovem polonesa foi presa no aeroporto de Bristol, no Reino Unido, em fevereiro, e foi acusada de quatro crimes de perseguição, tais como, fazer chamadas telefônicas, deixar mensagens de voicemail e enviar cartas e mensagens por WhatsApp aos pais de Maddie, Kate e Gerry McCann.

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