Soberano Opina | A opinião que se impõe
Por Cláudio Ulhoa

Arruda reaparece como se Brasília sentisse saudade do caos

Publicado em: 10/11/2025 16:23

Com seu discurso de “gestor experiente”, José Roberto Arruda tenta ressurgir das cinzas da própria corrupção, apostando que o eleitor brasiliense esqueceu o som das notas da Caixa de Pandora

Por Cláudio Ulhoa

José Roberto Arruda é aquele personagem que insiste em reaparecer quando Brasília começa a esquecer seus traumas políticos. Ex-governador, ex-senador e eterno protagonista de escândalos, ele parece acreditar que a capital do país tem memória curta, ou que o eleitor gosta de um bom roteiro de ficção recheado de propinas, lágrimas e discursos falsos sobre ética. Arruda já foi o “salvador” da administração pública, o homem que prometia enxugar gastos e moralizar o poder. No fim, o que enxugou mesmo foi a paciência do brasiliense, que teve de assistir, em rede nacional, ao próprio governador envolvido em gravações onde o dinheiro público circulava como se fosse troco de padaria.

A famosa Operação Caixa de Pandora foi o divisor de águas: revelou um governo que, em vez de combater o sistema, operava como o próprio sistema disfarçado de eficiência. Era o “novo jeito de governar”, mas o que veio mesmo foi o velho enredo da propina embrulhada em discurso de honestidade. Enquanto o povo enfrentava filas em hospitais e escolas sem estrutura, dentro dos gabinetes circulavam maços de dinheiro com destino bem definido. E quando o castelo de areia começou a ruir, Arruda ainda teve o desplante de posar como vítima política, como se ter as próprias mãos sujas fosse consequência de uma conspiração, e não de uma escolha.

A ironia é que, mesmo depois de tudo, ele continua se apresentando como alguém capaz de “reconstruir Brasília”. Difícil imaginar alguém reconstruindo aquilo que ajudou a demolir, moralmente, institucionalmente e eticamente. O ex-governador fala em “experiência de gestão”, mas o currículo inclui renúncia ao Senado por falsificar o painel eletrônico e uma prisão por envolvimento em corrupção. Essa é a “experiência” que ninguém deveria querer no Palácio do Buriti novamente.

No fim, o maior problema de Brasília não é Arruda. É a facilidade com que políticos assim encontram brechas para retornar, embalados por narrativas de arrependimento e promessas recicladas. O eleitor, cansado, muitas vezes se acomoda, e é aí que o ciclo recomeça. O roteiro é o mesmo, só mudam os figurinos. O protagonista, este, parece ter contrato vitalício com o escândalo.

Arruda é o retrato perfeito da política que Brasília não merece mais: uma mistura de arrogância, autopiedade e memória seletiva. Se o Distrito Federal quiser realmente evoluir, precisa fazer o que ele nunca conseguiu, romper com o passado e com os personagens que transformaram o poder público num palco de repetição cínica.

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