“Estou com medo”, diz mãe de menino brasileiro que teve dedos amputados

A mãe do menino de nove anos que perdeu as pontas de dois dedos em um caso de bullying, na Escola Básica de Fonte Coberta, em Cinfães, confessou ter sido alvo de represálias por parte dos pais das crianças envolvidas no caso. E decidiu, por isso, se mudar para uma cidade a cerca de uma hora de distância.
“Vim para Portugal à procura de uma vida melhor. Vivi no Porto por três anos e depois fui para uma região mais barata. Mas, agora, tenho de mudar tudo de novo. Estou com medo”, confessou Nívia Estevam ao g1.
Desde que denunciou o episódio, a família da jovem de 27 anos está temporariamente na casa dos sogros, regressando à sua residência apenas para alimentar o animal de estimação, um gato chamado Shelbinho. Contudo, Nívia decidiu mudar-se permanentemente, por temer novas represálias.
“O meu receio é que é uma cidade pequena, como se fosse uma região no interior do Brasil. As pessoas conhecem-se todas e, como os pais dos agressores têm família e amigos na região, não sei o que podem fazer. Não sei a maldade deles”, afirmou Nívia.
A mãe da criança adiantou ao g1 que a mudança será feita num único dia, com a ajuda de familiares. Será também necessário matricular o menino numa nova escola, mas a jovem confessou temer que ocorram mais situações de violência, já que “muitas regiões de Portugal são racistas e xenófobas”.
O caso de bullying foi denunciado pela própria Nívia, que se apresentou na rede social Instagram como “mãe da criança de nove anos que teve as pontas dos dedos amputados dentro da escola em Portugal”.
“Duas crianças fecharam a porta nos dedos do meu filho” quando ele foi ao banheiro, e o impediram “de sair e pedir ajuda”, contou numa das publicações, acrescentando que o menino “perdeu muito sangue e precisou se arrastar por baixo da porta com os dedos já amputados”.
O menor foi submetido a três horas de cirurgia no Hospital de São João, no Porto, e irá ficar “com sequelas físicas e psicológicas”, afirmou, pedindo ajuda jurídica para enfrentar o momento que está vivendo.
Segundo Nívia, o episódio de segunda-feira, dia 10 de novembro, aconteceu depois de já ter feito outras queixas relativas a “puxões de cabelo, pontapés e enforcamento”, sendo que “nenhuma atitude foi tomada pela escola”.
A mãe criticou o fato da escola não ter acionado a Polícia de Segurança Pública (PSP), e de não ter explicado a ela a gravidade da situação (da qual só se percebeu quando já ia na ambulância) e de as funcionárias terem limpado “todo o local” do incidente.
“A escola está tratando isto como uma brincadeira que correu mal”, lamentou.
Agrupamento e Inspeção-Geral da Educação abriram inquéritos
Entretanto, o Agrupamento de Escolas de Souselo abriu um inquérito interno para apurar o que aconteceu, segundo disse à agência Lusa o seu diretor, Carlos Silveira.
Carlos Silveira não quis dar mais esclarecimentos sobre o que aconteceu na segunda-feira, por ocorrer o inquérito interno, mas garantiu que “os socorros foram prontamente chamados” e a escola desenvolveu os procedimentos adequados.
“Não há PSP em Cinfães, só GNR. Quando é acionado o INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica), se considerar que é uma situação grave, automaticamente entra em contacto com as forças de segurança”, explicou.
Também a Inspeção-Geral da Educação abriu “um processo de averiguações sobre o incidente, a pedido do diretor geral da Direção-Geral de Estabelecimentos Escolares”.
O pedido de ajuda de Nívia foi ouvido e um grupo de 15 advogados já se disponibilizou para tratar do processo.
“Vamos proceder à queixa ao Ministério Público e vamos tratar do processo administrativo, da responsabilidade civil da escola em termos de vigilância e do processo cível”, revelou à Lusa a advogada Catarina Zuccaro.
No que respeita à questão criminal, os advogados vão estudar o que poderá ser feito, porque “os envolvidos são menores de idade”, mas terão de ser responsabilizados, acrescentou.
“Somos 15 advogados que vamos atuar. Cada núcleo vai ficar com uma parte: com o criminal, com o administrativo e com o cível”, contou Catarina Zuccaro.
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