Trump retira tarifas de 40% sobre carne, café, frutas e outros produtos do Brasil

Publicado em: 21/11/2025 04:43

SÃO PAULO, SP E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou decreto nesta quinta-feira (20) que retira as tarifas de 40% sobre alguns produtos agrícolas vendidos pelo Brasil.

Estão incluídos na lista carne e café, produtos importantes da pauta exportadora brasileira. Ao todo, são mais de 200 itens agrícolas e da pecuária, incluindo alguns fertilizantes à base de amônia.

Em comunicado, Trump cita a conversa que teve por videoconferência com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O republicano afirma que ouviu opiniões de outras autoridades no sentido de que as tarifas não são mais necessárias porque “houve progresso inicial nas negociações com o governo do Brasil”.

A isenção será retroativa para tudo que tiver entrado nos EUA a partir de 13 de novembro.

No fim de julho, Trump impôs uma sobretaxa de 40% a produtos importados pelo Brasil, que somou-se às chamadas “tarifas recíprocas” de 10% aplicadas globalmente. O decreto, no entanto, previu uma lista com quase 700 exceções, como suco de laranja e produtos de aviação, que livrou 43% do valor de itens brasileiros exportados para o exterior, segundo levantamento feito pela Folha de S.Paulo.

Na semana passada, o governo americano derrubou a tarifa de 10% das principais exportações brasileiras, como carne e café. Agora, a sobretaxa de 40% também caiu, isentando esses produtos das taxas adicionais aplicadas pelo republicano desde abril.

Um dos motivos para a decisão dos americanos foi a alta da inflação no país, pressionada por itens como alimentos.

O café, por exemplo, acumula alta de cerca de 20% em relação ao ano passado nos EUA, segundo dados do CPI (índice oficial de inflação do país). Em 2024, o Brasil exportou US$ 1,96 bilhão em café para os Estados Unidos, sendo o maior fornecedor no período, segundo dados da International Trade Administration, órgão vinculado ao Departamento de Comércio americano.

Desde que as tarifas de 50% entraram em vigor em agosto, no entanto, as vendas de café despencaram, segundo o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). Em outubro, a retração foi de 54,4% em relação ao ano passado.

Para Marcos Antonio Matos, diretor-geral do Cecafé, a decisão permite que o Brasil recupere o espaço perdido nesses meses. “Os próprios torrefadores [americanos] lutaram e muito pela reconquista da isonomia para os cafés brasileiros. A gente está agora em pé de igualdade, é o que a gente sempre quis”, afirmou.

Para a carne bovina, os EUA enfrentam uma inflação de 12% a 18% em relação ao ano passado. Além das tarifas sobre o Brasil, o maior exportador global, uma redução do rebanho local também tem pressionado os preços.

A Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) diz que celebra a retirada das sobretaxas sobre a carne bovina. A entidade diz que a reversão reforça a estabilidade do comércio internacional e mantém condições equilibradas para todos os países envolvidos, inclusive para a carne bovina brasileira.

“A medida demonstra a efetividade do diálogo técnico e das negociações conduzidas pelo governo brasileiro, que contribuíram para um desfecho construtivo e positivo. A Abiec seguirá atuando de forma cooperativa para ampliar oportunidades e fortalecer a presença do Brasil nos principais mercados globais.”

A Câmara Americana de Comércio no Brasil (Amcham) afirmou que a derrubada da sobretaxa sinaliza um resultado concreto do diálogo entre Brasil e Estados Unidos.

“A medida representa um avanço importante rumo à normalização do comércio bilateral, com efeitos imediatos para a competitividade das empresas brasileiras envolvidas”, disse.

A entidade, no entanto, reforçou que ainda é preciso intensificar as negociações para eliminar as sobretaxas aos produtos que ainda não foram beneficiados por isenções, como os bens industriais.

O presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Ricardo Alban, disse que a decisão de Trump é um avanço na renovação da agenda bilateral entre EUA e Brasil.

“Vemos com grande otimismo a ampliação das exceções e acreditamos que a medida restaura parte do papel que o Brasil sempre teve como um dos grandes fornecedores do mercado americano”, afirmou.

Alban também ressaltou a atuação do setor privado nas negociações do Brasil com os EUA. Como mostrou a Folha de S.Paulo, o empresário Joesley Batista, um dos donos da gigante de carnes JBS, foi recebido em audiência por Trump, e a própria CNI foi a Washington com representantes de diversos setores para negociar a derrubada das tarifas com o governo americano.

O anúncio do governo americano foi celebrado por petistas e integrantes do centrão no Congresso, sobretudo pelo impacto positivo para o agronegócio. O líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), disse que a decisão “confirma a força da diplomacia ativa do governo Lula, que trabalha com diálogo, respeito e inteligência estratégica”.

Já o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Nelsinho Trad (PSD-MS), comemorou a medida, sem mencionar a atuação do governo brasileiro, e disse que ainda é preciso avançar para retirar tarifas de mais produtos.

“É preciso reconhecer: embora os passos dados pelos EUA sejam muito positivos, o processo está longe de terminado. Persistem tarifas que atingem segmentos estratégicos e reduzem o potencial de expansão do nosso agro no maior mercado consumidor do planeta”, disse.

Integrantes da oposição, por sua vez, evitam creditar às autoridades brasileiras a nova redução de tarifas. De acordo com eles, trata-se de uma decisão tão somente para atender interesses comerciais dos Estados Unidos, que querem reduzir os preços.

O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), disse que, se fosse resultado das ações diplomáticas do governo Lula, teria sido anunciado ao lado de Mauro Vieira na semana passada. “Só interesse americano. Zero aproximação com o governo brasileiro. Trump está defendendo os interesses do país dele”, disse.

O empresário Paulo Figueiredo, que atua ao lado de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos, usou o mesmo argumento. “Trump simplesmente retirou as tarifas de alguns produtos brasileiros (como já tinha feito anteriormente) em busca da redução de preços domésticos -em alguns setores onde os EUA não são competitivos”, disse.

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Folhapress | 19:30 – 20/11/2025


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