Rubio adota postura dupla entre Venezuela e Ucrânia
Secretário de Estado combina pressão máxima contra Maduro e discurso moderado no conflito europeu
Por Cláudio Ulhoa
Marco Rubio, um dos nomes mais influentes da diplomacia dos Estados Unidos no governo Donald Trump, assumiu um papel que revela tanto cálculo político quanto adaptação estratégica: enquanto age com mão pesada contra o regime de Nicolás Maduro na Venezuela, opta por uma postura mais cautelosa ao lidar com a guerra na Ucrânia. A dualidade, destacada em reportagem do El País, lança luz sobre uma mudança de estilo dentro do núcleo duro da administração norte-americana e abre espaço para leituras divergentes sobre os rumos da política externa dos EUA.
No eixo sul-americano, Rubio reforça a estratégia de “pressão máxima” contra Caracas e vem alterando profundamente o tom histórico da diplomacia dos EUA para a região. Ele classificou o Cartel de los Soles, ligado a figuras do alto comando venezuelano, como organização terrorista, gesto que endurece a relação bilateral e amplia o isolamento internacional de Maduro. A leitura interna na Casa Branca é de que Rubio opera como um “falcão” nesse tabuleiro, defendendo medidas mais agressivas com a intenção de acelerar fissuras no regime chavista. É uma política que agrada alas conservadoras e parte da comunidade venezuelana exilada, mas também pode aumentar a tensão diplomática e o risco de instabilidade regional.
Em direção oposta, sua atuação na guerra da Ucrânia tem sido descrita como mais pragmática. Enquanto nomes do Partido Republicano pressionam por posições mais duras contra Moscou, Rubio tenta construir um plano de paz que não entregue Kiev aos interesses russos, mas que seja aceitável para aliados europeus e para o governo ucraniano. O plano, segundo fontes citadas pela imprensa internacional, foi ajustado para evitar a percepção de que os EUA estariam cedendo demais à pressão do Kremlin. Esse movimento faz de Rubio uma “pomba” no contexto do conflito europeu, um diplomata que busca equilíbrio e contenção, mesmo diante de uma guerra prolongada.
A estratégia dupla tem efeitos diretos na política doméstica americana. Por um lado, o endurecimento contra Maduro o aproxima da ala trumpista mais ideológica; por outro, sua moderação na Ucrânia o distancia dos republicanos mais radicais que rejeitam qualquer solução diplomática com Moscou. Essa ambivalência pode fortalecer sua imagem internacional, construindo uma reputação de negociador adaptável, ou expô-lo à crítica de incoerência, caso algum dos dois fronts resulte em fracasso político ou militar.
Apesar das tensões, a leitura predominante em Washington é que Rubio tenta ocupar um espaço de destaque dentro da administração Trump, mirando influência futura, inclusive eleitoral. Se avançar resultados concretos tanto no cerco ao regime venezuelano quanto na tentativa de pacificação na Europa, poderá consolidar-se como uma voz central da política externa republicana, com potencial para disputar protagonismo em 2028.
O que se observa, portanto, é um Marco Rubio moldado por um ambiente global fragmentado: agressivo quando acredita que a pressão gera resultados, e contido quando percebe que o custo de uma escalada pode ser maior do que o benefício estratégico. Uma diplomacia de duas faces, ou de duas armas, que revela muito mais sobre os EUA de hoje do que sobre o próprio Rubio.


