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Por Cláudio Ulhoa

Repórter é hostilizado e caso termina com PM acionada

Publicado em: 15/12/2025 18:55

Cena em Campina Grande expõe risco à imprensa e levanta debate sobre abuso em abordagem policial, após conflito em loja durante defesa de consumidor

Por Cláudio Ulhoa

A cena registrada em Campina Grande, na Paraíba, escancara um problema que deveria envergonhar qualquer instituição pública: a naturalização da hostilidade contra quem exerce o jornalismo de interesse público. Nas imagens, o repórter Carlos Santos, do canal TV Consumidor, acompanha um cliente que buscava apenas um documento por escrito sobre testes realizados em um celular comprado pela internet. O que deveria ser um atendimento simples, com formalização objetiva e respeito, degringolou para provocações, constrangimento e, no ápice, a presença da Polícia Militar.

É preciso dizer com clareza: o trabalho do repórter, naquele contexto, cumpre uma função social evidente. Ele buscava ouvir a empresa, registrar a versão do fornecedor e tentar resolver uma demanda de consumo, sem impedir o funcionamento do local e sem apresentar ameaça. A própria lógica do Código de Defesa do Consumidor reforça a vulnerabilidade do consumidor na relação e a necessidade de transparência e informação adequada, o que inclui respostas formais quando um impasse se prolonga.

O episódio fica ainda mais grave quando o debate sai do campo do atendimento e entra no terreno do deboche e da intimidação. A tentativa de desqualificar o profissional, com ironias e questionamentos sobre sua legitimidade, é um velho método: não se rebate o fato, ataca-se o mensageiro. Isso é tóxico para o ambiente democrático, porque cria um recado perigoso, de que “reportagem se resolve no grito”.

Mais lamentável, porém, é quando a autoridade estatal aparece não para pacificar, qualificar os envolvidos e garantir direitos, mas, segundo o que o repórter relata e aponta nas imagens, com postura que ele classifica como truculenta. A Lei de Abuso de Autoridade existe exatamente para coibir condutas arbitrárias de agentes públicos, quando violam direitos e extrapolam a função. Se houve excesso, cabe apuração séria e transparente, com os ritos corretos, sem corporativismo e sem “passar pano”.

Ninguém está acima da crítica pública, nem empresas, nem agentes do Estado. A imprensa não é inimiga. E policial não é “dono” do espaço público. O que a sociedade precisa é de protocolos claros, postura profissional e respeito: ao consumidor, ao trabalhador, ao jornalista, ao cidadão.

Se as instituições querem credibilidade, precisam entender que autoridade não é volume de voz, nem força física, nem intimidação. Autoridade é equilíbrio, legalidade e autocontrole.

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