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Por Cláudio Ulhoa

TCU investiga Cappelli e levanta alerta ao DF

Publicado em: 16/12/2025 12:50

Suspeitas de desvio de finalidade na ABDI colocam em xeque a capacidade de Ricardo Cappelli para administrar a máquina pública

O relatório da área técnica do Tribunal de Contas da União (TCU) não é um detalhe burocrático nem um ruído político menor. Ele lança uma suspeita grave sobre a atuação de Ricardo Cappelli à frente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e, por consequência, levanta uma pergunta que a população do Distrito Federal não pode ignorar: se um gestor utiliza uma agência federal para se promover, o que faria com a máquina de um governo inteiro?

Cappelli está sendo investigado por indícios de desvio de finalidade no uso de recursos públicos, especialmente por meio de um contrato de publicidade da ABDI que chegou a R$ 8,1 milhões. Segundo o parecer técnico, há sinais de que esses recursos foram usados para impulsionamento de conteúdos de caráter pessoal e político, desvinculados da missão institucional da agência, que deveria atuar exclusivamente no fomento ao desenvolvimento industrial e à inovação.

Os números são eloquentes. Entre agosto de 2024 e outubro de 2025, foram identificados aproximadamente 798 impulsionamentos pagos em redes sociais, com custos estimados entre R$ 156 mil e R$ 220 mil. O mais grave não é apenas o gasto, mas o alvo: conteúdos voltados à projeção pública do próprio presidente da ABDI, muitos deles com claro viés político. O relatório aponta ainda que servidores e terceirizados da agência teriam participado da gestão desses impulsionamentos, o que reforça a suspeita de uso da estrutura estatal para fins privados.

Não se trata de perseguição política, como tenta fazer crer a defesa de Cappelli. Trata-se de indícios técnicos levantados por um órgão de controle, com base em documentos, contratos e movimentações de recursos públicos. A área técnica do TCU foi clara ao apontar possíveis violações aos princípios da administração pública, como legalidade, impessoalidade e moralidade, além da hipótese de improbidade administrativa, caso os fatos sejam confirmados no julgamento de mérito.

É verdade que o TCU não determinou a suspensão cautelar imediata do contrato. Mas isso não é absolvição. É apenas um entendimento processual de que não havia urgência extrema naquele momento. O mérito da investigação segue aberto, e os indícios permanecem graves. Minimizar isso é desonesto com o contribuinte.

O problema central é político e ético. Um gestor público que confunde comunicação institucional com autopromoção demonstra desprezo pelos limites do cargo que ocupa. A ABDI não pertence ao seu presidente. Ela pertence ao Estado brasileiro. Usá-la como trampolim pessoal, ainda que de forma indireta, revela um padrão de comportamento incompatível com funções públicas de maior envergadura.

Cappelli é apontado como pré-candidato ao governo do Distrito Federal. E é exatamente aí que o alerta precisa ser aceso. Quem não respeita os limites de uma agência federal, com orçamento e missão específicos, não inspira confiança para administrar um orçamento bilionário, dezenas de secretarias e toda a estrutura do GDF. Governar exige responsabilidade, autocontenção e respeito absoluto ao dinheiro público. O caso da ABDI aponta justamente o contrário.

A população do DF já viu esse filme antes: gestores que usam o poder para construir projetos pessoais, misturam Estado com ambição política e deixam a conta para o cidadão. O resultado costuma ser desperdício, aparelhamento e descrédito institucional. Não é aceitável repetir esse erro.

O rigor do TCU é necessário, mas a vigilância da sociedade é ainda mais. O que está em julgamento não é apenas a conduta de um dirigente, mas o modelo de gestão que ele representa. Normalizar o uso da máquina pública como ferramenta de autopromoção é abrir caminho para abusos maiores no futuro.

O Distrito Federal não pode correr esse risco.

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