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Por Cláudio Ulhoa

Justiça manda murchar o boneco de Arruda

Publicado em: 22/12/2025 15:45

Tentativa de pré-campanha fora do prazo vira alvo do TRE-DF e expõe pressa política disfarçada de saudade

Por Cláudio Ulhoa

Se ainda havia alguma dúvida de que a política do Distrito Federal vive um eterno déjà-vu, ela foi dissipada por um boneco inflável. Sim, um boneco. A Justiça Eleitoral precisou intervir para lembrar o óbvio: campanha eleitoral tem data, e nostalgia não é salvo-conduto jurídico.

O episódio do “boneco da volta” de José Roberto Arruda é didático. Um gigante de plástico, camiseta com mensagem sugestiva, carro de som e uma tentativa nada sutil de aquecer o eleitorado antes da largada oficial. Tudo isso em pleno dezembro, como se o calendário eleitoral fosse apenas um detalhe decorativo. Não é. E o Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal fez o favor de explicar.

A decisão foi clara: suspende-se o espetáculo. A Justiça entendeu que o ato cheira, e muito, a propaganda antecipada. Afinal, quando um boneco circula pedindo “volta”, não é homenagem folclórica; é marketing político de baixa sutileza. A lei não exige criatividade, apenas respeito. E, convenhamos, criatividade ali passou longe.

Veio então a nota defensiva: não fui eu, foi um simpatizante; não autorizei, não paguei, não vi. O clássico roteiro do “ninguém sabe, ninguém viu”, muito comum quando a encenação dá errado. Curioso é que, quando dá certo, a autoria costuma aparecer rapidinho. Mas quando a Justiça bate à porta, a obra vira “espontânea”, quase um fenômeno paranormal da militância.

O ponto central, porém, não é o boneco. É o sinal. O episódio revela a pressa de quem tenta reocupar o palco antes de o pano subir. Revela também uma leitura equivocada do eleitor: tratar o público como plateia de circo, esperando aplausos automáticos para um truque antigo. Só que o DF já viu esse filme. E, ao que tudo indica, não quer reprise fora de hora.

A multa diária imposta pela Justiça funciona como legenda do episódio: a lei não ri da piada. Em tempos de disputa dura e memória ativa, a estratégia do “vale tudo” encontra um limite simples e constrangedor: o calendário e a legalidade. O resto é inflável, e murcha rápido.

No fim, ficou a imagem simbólica de uma pré-campanha que precisou ser desmontada pela Justiça. Um boneco mandado sentar antes do sinal verde. Um lembrete público de que, na democracia, o timing importa. E que, por mais barulho que se faça, a lei não entra em clima de carnaval fora de época.

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