
Soberano Opina | A opinião que se impõe
Por Cláudio Ulhoa
Arruda reaparece como se Brasília sentisse saudade do caos
Com seu discurso de “gestor experiente”, José Roberto Arruda tenta ressurgir das cinzas da própria corrupção, apostando que o eleitor brasiliense esqueceu o som das notas da Caixa de Pandora
Por Cláudio Ulhoa
José Roberto Arruda é aquele personagem que insiste em reaparecer quando Brasília começa a esquecer seus traumas políticos. Ex-governador, ex-senador e eterno protagonista de escândalos, ele parece acreditar que a capital do país tem memória curta, ou que o eleitor gosta de um bom roteiro de ficção recheado de propinas, lágrimas e discursos falsos sobre ética. Arruda já foi o “salvador” da administração pública, o homem que prometia enxugar gastos e moralizar o poder. No fim, o que enxugou mesmo foi a paciência do brasiliense, que teve de assistir, em rede nacional, ao próprio governador envolvido em gravações onde o dinheiro público circulava como se fosse troco de padaria.
A famosa Operação Caixa de Pandora foi o divisor de águas: revelou um governo que, em vez de combater o sistema, operava como o próprio sistema disfarçado de eficiência. Era o “novo jeito de governar”, mas o que veio mesmo foi o velho enredo da propina embrulhada em discurso de honestidade. Enquanto o povo enfrentava filas em hospitais e escolas sem estrutura, dentro dos gabinetes circulavam maços de dinheiro com destino bem definido. E quando o castelo de areia começou a ruir, Arruda ainda teve o desplante de posar como vítima política, como se ter as próprias mãos sujas fosse consequência de uma conspiração, e não de uma escolha.
A ironia é que, mesmo depois de tudo, ele continua se apresentando como alguém capaz de “reconstruir Brasília”. Difícil imaginar alguém reconstruindo aquilo que ajudou a demolir, moralmente, institucionalmente e eticamente. O ex-governador fala em “experiência de gestão”, mas o currículo inclui renúncia ao Senado por falsificar o painel eletrônico e uma prisão por envolvimento em corrupção. Essa é a “experiência” que ninguém deveria querer no Palácio do Buriti novamente.
No fim, o maior problema de Brasília não é Arruda. É a facilidade com que políticos assim encontram brechas para retornar, embalados por narrativas de arrependimento e promessas recicladas. O eleitor, cansado, muitas vezes se acomoda, e é aí que o ciclo recomeça. O roteiro é o mesmo, só mudam os figurinos. O protagonista, este, parece ter contrato vitalício com o escândalo.
Arruda é o retrato perfeito da política que Brasília não merece mais: uma mistura de arrogância, autopiedade e memória seletiva. Se o Distrito Federal quiser realmente evoluir, precisa fazer o que ele nunca conseguiu, romper com o passado e com os personagens que transformaram o poder público num palco de repetição cínica.


