Augusto Melo é destituído da presidência do Corinthians

Publicado em: 10/08/2025 09:26

LUCIANO TRINDADE
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Augusto Melo, 61, tornou-se neste sábado (9) o terceiro presidente da história do Corinthians a ser destituído.

Em assembleia geral dos sócios do clube, conforme previsão estatuária, realizada no Parque São Jorge, 1.413 associados foram a favor de seu impeachment e 620 votaram para sua recondução ao cargo. Houve ainda dois votos nulos e dois brancos. Em maio, o Conselho Deliberativo já havia se manifestado a favor do impedimento, com 176 votos a 57.

Eleito em novembro de 2023, o empresário perdeu seu capital político logo no primeiro ano de sua gestão como consequência de investigações da Polícia Civil e do Conselho do clube sobre o pagamento de R$ 25 milhões à rede Social Media Design como comissão de intermediação pelo contrato de patrocínio com a casa de apostas online VaideBet.

O patrocínio, anunciado em janeiro de 2024 com valor estimado em R$ 370 milhões para três temporadas -o maior da história do clube-, foi rescindido cinco meses depois com o acionamento da cláusula anticorrupção, o que desencadeou investigações sobre empresas “laranjas” envolvidas na operação.

Augusto nega as irregularidades que foram apontadas para justificar seu afastamento da presidência -e que fizeram dele e de outros dirigentes de sua gestão réus, denunciados sob suspeita de associação criminosa, lavagem de dinheiro e furto.

O cartola afirma que todas as acusações são falsas e que o processo “é ilegal e repleto de nulidades e abusos”. Ele cita ilegalidade na produção de relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) supostamente sem autorização judicial e questiona a investigação conduzida pela Polícia Civil, em assuntos que, segundo sua defesa, seriam de competência da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.

O Ministério Público de São Paulo pediu que todos os denunciados paguem R$ 40 milhões de indenização à agremiação do Parque São Jorge. O órgão também solicitou à Justiça o bloqueio de bens de pessoas físicas e jurídicas citadas na investigação.

O curso do processo terá agora audiências, depoimentos e produção de provas para, posteriormente, uma decisão do juiz.

No Corinthians, não há mais caminhos que possam salvar Augusto Melo. Antes dele, a história corintiana havia registrado dois episódios de presidentes depostos: em 1972, Miguel Martinez foi destituído do cargo, e o Conselho Deliberativo aclamou Vicente Matheus para o seu lugar.

Em cenário semelhante ao atual, a missão de Matheus era sanear as dívidas e recuperar a credibilidade da agremiação. Martinez comandou o time paulista por 15 meses, seis meses a menos do que o total de seu mandato.

Na década de 1940, associa-se a queda do então presidente do Corinthians, o espanhol Manuel Correcher, à pressão do governo de Getúlio Vargas, em uma época marcada por perseguições a diretores e sócios estrangeiros dos clubes paulistas na 2ª Guerra Mundial.

Em 2007, Alberto Dualib também correu risco de perder seu cargo, mas renunciou à presidência em meio a um processo de impeachment, sob denúncias de má gestão, enriquecimento ilícito e sonegação fiscal.

Na ocasião, o Conselho Deliberativo se reuniu para eleger um novo dirigente para um mandato tampão, até janeiro de 2009. O escolhido foi Andrés Sanchez, que deu início à dinastia que manteve seu grupo político no poder por 16 anos, até a derrota de André Negão para Augusto Melo em 2023.

Desde 2009, o estatuto do clube exige que o sócio tenha no mínimo cinco anos de associação para votar em eleições presidenciais e proíbe reeleição -condições que moldaram muitas das disputas recentes.

Melo, que chegou a fazer parte do grupo encabeçado por Andrés, havia aproveitado justamente a imagem desgastada da chapa para se eleger. Agora, foi sua própria imagem que ruiu diante dos sócios.

O estatuto da agremiação alvinegra prevê que, havendo vacância dos cargos de presidente e vice-presidente, o Conselho Deliberativo tem cinco dias úteis para eleger uma nova diretoria para um mandato tampão -no caso, até o fim de 2026-, quando terminaria o mandato de Melo.

Desde o afastamento determinado pelo Conselho Deliberativo, Osmar Stabile deixou de ser uma figura decorativa como vice-presidente e se tornou presidente interino. Sua gestão tem despertado apoio de uma corrente interna que defende sua candidatura para evitar um terceiro nome à frente do clube em curto período.

Há outros interessados na cadeira. Alguns velhos conhecidos, como Antônio Roque Citadini, dirigente do futebol entre 2001 e 2004, e Armando Mendonça, que era segundo vice de Augusto Melo e passou a primeiro vice com seu afastamento.

Não se duvida, no entanto, da influência de Andrés Sanchez no Parque São Jorge apesar do desgaste de seu grupo perante a torcida. Como a votação dos conselheiros será restrita ao Conselho, um candidato apoiado por ele tem reais chances. Sérgio Alvarenga, ex-diretor jurídico da gestão Sanchez, desponta como opção em discussões internas.

Antes da votação dos sócios, ninguém quis se colocar publicamente como candidato, temendo que isso pudesse influenciar no destino de Augusto -agora com seu afastamento consumado.

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