Brasil na rota da crise dos elétricos chineses

Publicado em: 15/11/2025 19:45

Expansão agressiva da China no setor automotivo expõe o Brasil a riscos econômicos, ameaça empregos e reacende o alerta sobre dependência industrial

Por Cláudio Ulhoa

A bolha dos carros elétricos que se formou na China não é mais um alerta distante. Ela já dá sinais claros de ruptura e, quando esse tipo de engrenagem falha no país que mais produz veículos elétricos no planeta, o impacto tende a atravessar fronteiras. O Brasil, que abriu suas portas para a chegada em massa desses veículos e para a instalação de montadoras que funcionam mais como centros de encaixe do que de produção real, está diretamente na rota desse abalo.

A crise começou a ganhar força quando a BYD, maior fabricante de elétricos da China e orgulho do Partido Comunista, passou a operar com caixa negativo bilionário. A guerra de preços travada no mercado chinês, criada pela própria estratégia agressiva da empresa, consumiu margens de lucro e transformou pátios industriais em verdadeiros cemitérios de carros novos sem compradores. Com o mercado interno saturado, a solução encontrada pelo governo chinês foi exportar o excedente para países com tarifas mais brandas. E é justamente nesse cenário que o Brasil se tornou o destino preferido.

Enquanto Europa e Estados Unidos adotaram políticas de proteção industrial, o Brasil optou pelo caminho inverso: reduziu tarifas, comemorou investimentos e abriu espaço para montadoras que não fabricam peças, apenas montam kits vindos da Ásia. Segundo a Anfavea, até 50 mil empregos podem desaparecer na cadeia automotiva caso o país continue flexibilizando a entrada desses veículos a preços que a indústria nacional não consegue acompanhar.

A maior preocupação não está apenas no impacto imediato, mas no efeito dominó. A indústria automotiva brasileira, uma das mais importantes para o PIB, para a arrecadação e para a geração de empregos qualificados, corre o risco de repetir episódios conhecidos. Foi assim com a antiga FNM nos anos 60, com o setor de informática nos anos 90 e com o têxtil no início dos anos 2000: setores inteiros engolidos por concorrência externa subsidiada, sempre amparada por políticas de estado impossíveis de competir.

Agora, com a bolha dos elétricos estourando na China, o excedente de produção é despejado em mercados como o nosso, pressionando montadoras já fragilizadas e ameaçando fornecedores, concessionárias e trabalhadores especializados. Para economistas, essa não é apenas uma disputa comercial: trata-se de um movimento estrutural que pode reposicionar o Brasil mais uma vez como dependente industrial, distante das cadeias de tecnologia que definem o futuro da mobilidade.

Se nada mudar, o país corre o risco de assistir à perda gradual de sua capacidade produtiva. E, quando a poeira desse colapso baixar, pode descobrir que pagou caro para montar aquilo que outros produzem, enquanto sua própria indústria ficou sem ar.

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