Brasil volta à lista dos países com mais crianças não vacinadas
O Brasil voltou a figurar entre os países com maior número de crianças não vacinadas, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) e Unicef, divulgado na terça-feira (15/7). O dado usa como indicador a cobertura da vacina tríplice bacteriana (DTP), que protege contra difteria, tétano e coqueluche. O país havia saído da lista em 2023, após a retomada das campanhas de imunização.
A coordenadora da Câmara Técnica de Enfermagem em Saúde da Criança do Cofen, Ivone Amazonas, alerta para a queda preocupante da cobertura vacinal. Em 2023, 103 mil crianças brasileiras não estavam vacinadas. Em 2024, o número mais que dobrou: 229 mil. A vacina pentavalente, administrada aos 2, 4 e 6 meses, inclui proteção contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e Haemophilus influenzae. O reforço com a DTP ocorre aos 15 meses e aos 4 anos.
Ivone destaca a importância de estratégias para alcançar famílias e gestantes, que devem receber a DTPa — também disponível no SUS — garantindo proteção aos recém-nascidos. Segundo ela, a eficácia das vacinas pode criar uma falsa sensação de segurança: “São doenças graves e ainda circulam.”
Em 2024, o Brasil registrou mais de 7.440 casos confirmados de coqueluche, conhecida como “tosse comprida”, caracterizada por acessos de tosse seca que podem causar chiados agudos. O tétano, associado à alta letalidade, continua presente, com 188, 205 e 219 casos confirmados entre 2022 e 2024, principalmente entre adultos e idosos. A letalidade segue alta, acima de 26% nos três anos. Já a última morte por difteria ocorreu em 2017, em uma criança migrante na fronteira com a Venezuela.
Cenário global estagnado
O relatório mostra que nove em cada dez crianças receberam ao menos uma dose da vacina DTP, e 85% completaram as três. Outros 5,6 milhões estão parcialmente imunizados. Entre 195 países analisados, 131 mantêm cobertura acima de 90% para a primeira dose desde 2019, mas só 17 conseguiram ampliar essa taxa nos últimos cinco anos. Em 47 países, o progresso está parado ou regredindo.
Atualmente, 14,3 milhões de crianças no mundo não tomaram sequer uma dose da vacina contra difteria, tétano e coqueluche. Mais da metade delas vive em apenas dez países, incluindo Afeganistão, Etiópia, Índia e Nigéria. Crises humanitárias e conflitos estão entre as principais causas.
Outras coberturas preocupam
A vacinação contra o sarampo segue crítica: em 2024, 84% das crianças de dois anos haviam recebido a primeira dose, e 76% a segunda. Já a proteção contra febre amarela em áreas de risco foi de apenas 50%, bem abaixo dos 80% recomendados. O relatório também recomenda a expansão da vacina contra malária, eficaz na prevenção de mortes infantis na África subsaariana.
A vacinação contra o HPV teve avanço, passando de 17% em 2019 para 31% em 2024 entre meninas. O objetivo global é atingir 90% até 2030. O vírus está relacionado a diversos tipos de câncer, incluindo o do colo do útero, um dos mais incidentes entre mulheres no Brasil.
O papel da enfermagem
A Enfermagem é peça-chave na vacinação no Brasil, sendo responsável pela cadeia de frios, administração, prescrição, monitoramento de efeitos adversos e busca ativa nos territórios. Hoje, o país conta com 35 mil salas de vacina coordenadas por enfermeiros em todo o território nacional.
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