Com título da F3, Rafael Câmara avança para ser o futuro da Ferrari na F1
(FOLHAPRESS) – O pequeno adesivo da Ferrari estampado no F3 de Rafael Câmara na preliminar do GP da Hungria, disputado no último dia 3, indica que ele integra a academia de talentos da equipe italiana. Mas o simbolismo dessa marca vai além: o brasileiro de 20 anos é hoje a principal aposta da empresa de Maranello para jovens pilotos rumo à F1.
Com a conquista do título com uma rodada de antecipação, com uma brilhante vitória sob chuva em Budapeste, Câmara consolidou sua reputação como o mais promissor talento da Ferrari Driver Academy, a mesma que preparou nomes como Charles Leclerc, atual titular do time.
Em 2024, Câmara também já havia sido responsável pela conquista do único título da academia de talentos, ao vencer a disputada Freca (Campeonato Europeu de Fórmula Regional). O segundo título seguido para Câmara trouxe outro importante ingrediente: foi conquistado na preliminar da F1, logo em seu ano de estreia -repetindo o feito do próprio Leclerc. A ida para a F2 já foi anunciada, e a estreia em um teste na F1 deve ocorrer no próximo ano, como contou o piloto à Folha na Hungria.
“Se você tem um bom resultado, vai ganhando novas chances, e isso me dá boa chance de fazer o treino livre com a F1 em 2026”, explicou Câmara. “Mas no automobilismo você depende muito dos seus resultados. Tudo muda muito rapidamente. Então, você tem que sempre focar o agora e fazer tudo do jeito certo.”
A Ferrari fornece motores para mais equipes no grid -Sauber e Haas- e empresta jovens talentos a essas escuderias como parte da parceria técnica. É uma forma também de acelerar o desenvolvimento de talentos sem a pressão de colocá-los diretamente na Ferrari. Foi assim com Felipe Massa, um dos primeiros pilotos a ter apoio da Ferrari desde o começo da carreira. Na F1, ele iniciou sua trajetória na Sauber -o mesmo time, anos depois, da estreia de Leclerc.
Atualmente, o britânico Oliver Bearman é o piloto desenvolvido pela Ferrari Driver Academy que está mais próximo de se tornar titular em Maranello. A janela de oportunidade para Câmara na categoria deve se abrir daqui a dois anos.
Seu nome já está em alta no “paddock” e fora dele. Logo após a conquista do título, ele passou a ser agenciado pela Octagon Latam, empresa de marketing esportivo de Ronaldo Fenômeno.
Natural de Recife, Câmara teve desde cedo que viver fora de casa para competir contra os melhores pilotos. Primeiro, indo a São Paulo para competir com os melhores do Brasil, incluindo Gabriel Bortoleto, hoje titular da Sauber na F1.
“Desde o comecinho em São Paulo, no kartódromo da Granja Viana e em Interlagos, todos corriam juntos. Bortoleto e eu andamos de Cadete, Mini Max, Júnior Menor, e depois ele se mudou rapidamente para a Europa. É bem legal ver nossa geração fazendo um trabalho bem-feito, com todos no seu caminho. Bortoleto chegou à F1, que é o topo. Pensar que a gente andou junto me deixa muito feliz por ver que ele conseguiu. E me dá uma força a mais para saber que a gente tem nível para estar lá”, disse Câmara.
O bom desempenho no Brasil fez com que o pernambucano seguisse a rota de sucesso traçada por Bortoleto. Se na época de Ayrton Senna a base era a Inglaterra para iniciar a carreira em fórmulas, na atual geração o caminho foi se estabelecer na capital do kartismo internacional: Lonato, na Itália.
No kart, Câmara fez sucesso nos mesmos campeonatos que levaram ao estrelato nomes como Max Verstappen e Lewis Hamilton. Em 2019, foi vice-campeão do mundo da categoria OK Júnior. Em 2021, foi vice-campeão europeu. Por fim, fechou a brilhante trajetória no kart com os títulos do WSK Champions Cup, do Super Master e do Champions of the Future.
“Eu mudei cedo para a Itália. O kart no Brasil, com certeza, tem pilotos bons e me colocou em nível para brigar por vitórias no Europeu. Mas a dinâmica dos campeonatos é diferente: o chassi, os motores… Agora tem a F4 Brasil, mas na minha época não tinha. Aqui na Europa, depois que você fica conhecido, fica mais fácil para ter vagas nas equipes da F4”, afirmou Câmara.
A estreia nos fórmulas veio com a Prema, em 2022, quando se tornou membro do Ferrari Driver Academy e foi terceiro colocado nas F4 Alemã e Italiana. Um ano depois, estreou na Freca, vencendo duas corridas em seu ano de estreia -que teve Kimi Antonelli como campeão. Em 2024, veio o título, e de forma convincente: com sete vitórias, 12 pódios e sete poles em dez rodadas duplas.
O passo seguinte foi a F3, passando para a Trident. E mais uma vez Câmara não deu chances aos adversários: venceu quatro vezes e fez cinco poles em nove etapas. “Foi um ano que surpreendeu, principalmente no começo. A gente quase não cometeu erros, sempre foi constante, brigando por pole e vitória. Estou contente com a equipe e com o trabalho que a gente fez junto. Vai ser um ano para ter de lembrança”, declarou.
O jovem piloto de 20 anos espera continuar construindo boas memórias. E trabalha para que o símbolo da Ferrari, aquele do adesivo, tenha em breve ainda mais significado.