como PIB do Brasil será afetado? JPMorgan vê impacto de até 1,2% na economia

Publicado em: 10/07/2025 03:43

O tarifaço de 50% dos EUA contra o Brasil foi tão surpreendente assim? Talvez não para o JPMorgan.

O banco americano lembra que, em novembro, alertou que o Brasil, apesar de ter um comércio relativamente equilibrado com os EUA, poderia ser alvo em uma guerra comercial mais ampla devido às suas altas tarifas de importação sobre produtos americanos e à sua postura geopolítica não alinhada.

“O ‘Dia da Libertação’ de 2 de abril nos surpreendeu, pois o Brasil recebeu pouca atenção e uma tarifa mínima de 10%. Até agora. Após ameaçar uma tarifa adicional de 10% sobre os países do BRICS no domingo, Trump anunciou que a tarifa padrão sobre as exportações brasileiras para os EUA será de 50%, com vigência no início de agosto. Isso supera em muito nosso cenário base de 10% mais as tarifas setoriais já anunciadas”, destacam os economistas Vinicius Moreira, Cassiana Fernandez e Mirella Mirandola Sampaio.

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A carta de Trump ao governo justificou as ações com temas que vão desde a situação legal do ex-presidente Bolsonaro, decisões do Supremo Tribunal Federal do Brasil, até uma relação comercial “muito injusta” e “não recíproca”. Uma investigação da Seção 301 sobre o Brasil também foi iniciada, segundo a carta.

Os economistas ressaltam que as exportações totais do Brasil para os EUA representam cerca de 1,9% do PIB, sendo 53% bens manufaturados, 28% produtos agrícolas e o restante petróleo e derivados.

Os doze grupos de produtos mais impactados, que representam cerca de três quartos das exportações totais para os EUA, incluem metalurgia (aço e alumínio), petróleo bruto, químicos, aviões, café, combustível refinado, madeira, celulose, suco, carne bovina, equipamentos de construção e cimento.

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Aço e alumínio, que representam cerca de 18% das exportações totais para os EUA, já estavam sujeitos a tarifas setoriais de 50%. O etanol foi igualmente afetado, mas seu impacto macroeconômico é mínimo.

O banco estima que o PIB do Brasil possa ser reduzido entre 0,2% e 0,3% para cada aumento de 10 pontos percentuais na tarifa.

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“Embora isso coloque o Brasil como um dos países menos afetados globalmente por tarifas de tamanho semelhante, a tarifa de 50% eleva esse impacto total para entre 0,8% e 1,2% do PIB. Se o anúncio de hoje excluir o grupo de aço e alumínio, o impacto é reduzido em cerca de 20%, e esse impacto direto negativo pode ser mitigado pela diversificação para China, UE, México e Canadá”, avalia a equipe econômica.

No momento, o banco ressaltou que não está alterando as suas previsões de crescimento do PIB ou do saldo comercial devido à incerteza sobre os níveis tarifários e seus prazos, como ocorreu com outros países.

De qualquer forma, a resposta do governo brasileiro e dos partidos de oposição será importante para avaliar o impacto final na economia.

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“Dito isso, o risco para nossa previsão já pessimista de crescimento para o segundo semestre de 2025 e além é ainda maior. O efeito sobre os preços domésticos no Brasil é incerto. Embora a maior disponibilidade de produtos antes exportados no mercado interno possa reduzir preços, o comportamento da taxa de câmbio terá papel crucial. Até agora, o real se desvalorizou 2,2%, mas isso pode ser apenas o impacto imediato do anúncio”, conclui o banco.

“Carta singular”

Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para América Latina do Goldman Sachs., aponta que a carta ao Brasil é a mais singular entre as recentemente enviadas a vários países.

“Não começa com uma caracterização ampla das queixas comerciais bilaterais, mas com um parágrafo argumentando que o ex-presidente Jair Bolsonaro não está sendo tratado de forma justa pelo sistema judicial brasileiro. A Casa Branca caracterizou a relação comercial com o Brasil como ‘longe de ser recíproca” e “muito injusta” devido a uma combinação de políticas tarifárias, não tarifárias e barreiras comerciais, e que a tarifa de 50% é muito inferior ao necessário para garantir um “campo de jogo equilibrado”.

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Caso o Brasil “abra mercados comerciais fechados para os EUA e elimine políticas e barreiras tarifárias e não tarifárias”, a administração americana “talvez” considere ajustar a carta.

Segundo os cálculos do Goldman, as tarifas já anunciadas e as esperadas tarifas setoriais (50% sobre cobre, 25% sobre produtos farmacêuticos, semicondutores, minerais críticos e produtos de madeira, previstas para o 3º trimestre de 2025) levarão a um aumento efetivo da tarifa de importação dos EUA sobre as exportações brasileiras em 35,5 pontos percentuais.

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O Goldman também ressalta que as exportações do Brasil representam uma parcela modesta do PIB (menos de 20%) e as exportações para os EUA são pequenas: apenas 2% do PIB (US$ 42,7 bilhões; ou 12,6% do total das exportações brasileiras globais).

As estimativas do banco indicam que, se duradouras e sem grandes retaliações, essas tarifas podem ter um impacto negativo de 0,3 a 0,4 ponto percentual no PIB (sendo que cerca de 0,1 ponto já estava considerado em nossa linha de base). Retaliações gerariam um impacto negativo maior na atividade econômica e na inflação brasileiras.

“Ainda não está claro se, como e quando o Brasil retaliará. A inclinação política pode ser para retaliar, mas esperamos que exportadores locais pressionem o governo para desescalar o conflito”, avalia Ramos.

As questões vão além, contudo. “Não é apenas uma questão de comércio bilateral”, disse Solange Srour, chefe de macroeconomia do Brasil no UBS Global Wealth Management. “Essas tarifas mostram que nossas relações institucionais entre países estão degradadas e danificadas. 50% é uma tarifa que, em muitos casos, pode tornar as exportações inviáveis.”

(com Bloomberg)


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