Conselheiros do Corinthians tateiam terreno antes de definir chapas de eleição
(FOLHAPRESS) – Confirmado no último fim de semana o impeachment do presidente do Corinthians, as figuras políticas do clube procuram entender o cenário que se apresenta. Elas tentam ainda compreender exatamente onde estão pisando e usam a indefinição a respeito da data da nova eleição para justificar a indefinição em sua posição.
O que há de concreto é que Augusto Melo foi de presidente afastado a presidente destituído. Embora conteste o próprio impedimento e as acusações de corrupção que o motivaram, está fora. Agora, o Conselho Deliberativo deve reunir-se para eleger uma chapa-tampão, que dirigirá a agremiação até o fim de 2026, quando terminaria o mandato de Augusto.
O terreno é pantanoso, até no que se refere aos prazos. A redação do artigo 108 do estatuto alvinegro -que trata da possibilidade de vacância do cargo de presidente- tem lacunas, o que oferece ao presidente do Conselho, Romeu Tuma Júnior, maleabilidade na condução do calendário.
“Eu não marquei ainda, não, tá? É boato”, respondeu Tuma, questionado sobre a informação de que o pleito -indireto, só com votos dos conselheiros- havia sido agendado para 25 de agosto.
Quando ele ocorrer, Osmar Stabile será um dos candidatos. Primeiro vice-presidente de Augusto Melo, o empresário assumiu interinamente a presidência em maio, quando o titular da cadeira foi afastado pelo Conselho, por 176 votos a 57.
Stabile era um vice decorativo ou, na sua própria palavra, “escanteado”. O empresário integrou a chapa de Augusto na eleição, mas, de fato, jamais participou efetivamente da gestão.
Desde o afastamento de Melo -referendado em assembleia geral dos sócios, por 1.413 votos a 620-, diversos grupos políticos avaliam se assumir a presidência agora para o mandato-tampão, em meio a uma grave crise financeira, pode dificultar a disputa para o próximo mandato completo, de 2027 a 2030.
“Esperamos a marcação da nova eleição”, disse Antônio Roque Citadini, apontado como possível adversário de Stabile. “Eu espero a definição da data. Nome depende da avaliação eleitoral.”
Citadini é uma figura ilustrativa no desenho da política alvinegra. No Corinthians, especialmente em uma eleição restrita a conselheiros, sem a participação dos demais sócios, os conceitos de situação e oposição são turvos.
Roque foi candidato a presidente em 2015 e 2018, com Stabile como vice em sua chapa em ambas as tentativas. Agora, aparece como alternativa a Stabile por não concordar com a eleição daquele que era vice do presidente impedido.
Citadini se posicionou historicamente contra o grupo intitulado Renovação e Transparência, encabeçado por Andrés Sanchez, que comandou o Corinthians de 2007 a 2023. Agora, circula a informação de que Citadini é o candidato de Andrés -que, como ele, foi dirigente durante parte do reinado de Alberto Dualib, presidente de 1993 a 2007.
“Não estou falando sobre Corinthians”, respondeu Andrés, procurado pela reportagem. “Me esqueçam, por favor.”
Investigado pelo Ministério Público pelo uso do cartão corporativo do clube para gastos pessoais -disse ter se confundido e devolveu R$ 15 mil aos cofres alvinegros-, ele reagiu à sua maneira ao ser questionado sobre o suposto apoio a Citadini, velho adversário. “Tá louco? Não declaro apoio a ninguém!”
Nesse cenário, enquanto amigos e nem tão amigos discutem as possibilidades, o Corinthians lida com uma dívida na casa dos R$ 2,5 bilhões. O time, 13º colocado do Campeonato Brasileiro, está impedido de fazer contratações, uma punição da Fifa (Federação Internacional de Futebol) por inadimplência. Os salários, com frequência, têm sido pagos com atraso.
“Nós entramos para arrumar, para organizar. O financeiro estava desorganizado”, afirmou Stabile, que se assustou com dívidas de curto prazo e antecipou verbas. “O que nós fizemos? Organizamos.”
Ele quer continuar esse trabalho e conta com o apoio de personagens relevantes da política alvinegra, como Paulo Garcia e Flávio Adauto. Outros, como Sérgio Alvarenga, ainda avaliam se apoiam o presidente interino ou lançam chapa própria.
Todos esperam Tuma anunciar a data da eleição.