Fake news do Egito Antigo? Praga mortal em capital é um mito, indica estudo

Publicado em: 23/10/2025 17:30


SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Uma das histórias mais conhecidas sobre o Egito antigo pode estar errada. Um novo estudo afirma que não há evidências de que a cidade de Akhenaton, atual Amarna, tenha sido destruída por uma epidemia mortal no século 14 a.C.

A pesquisa foi publicada no American Journal of Archaeology e analisou vestígios arqueológicos e bioarqueológicos da região. O objetivo foi testar a ideia de que uma praga teria provocado mortes em massa e o abandono repentino da capital criada por Akhenaton.

Escavações feitas entre 2005 e 2022 mostram um cenário diferente. Há sinais de vida dura, com doenças crônicas e desgaste físico. Mas não existe indício de colapso sanitário. Os sepultamentos seguem práticas tradicionais. Não há cemitério emergencial. Enterros múltiplos aparecem, mas em um padrão que os arqueólogos interpretam como cultural, não como resposta a uma crise.

“Temos sido capazes de pegar essas expectativas e comparar o que vemos em Amarna com o que é esperado de uma cidade/cemitério afetado por uma epidemia”, disse Gretchen Dabbs, arqueóloga, em nota da Phys.org.

Evidências analisadas “não apontam para mortalidade elevada” causada por doença contagiosa, diz estudiosa. O abandono da cidade também parece ter ocorrido de forma planejada. A população recolheu seus pertences, portanto, não há sinais de fuga desesperada.

QUEM FOI AKHENATON

Akhenaton governou o Egito por volta de (1353 – 1336 a.C.) durante o período do Novo Império e rompeu com a tradição religiosa que dominava o país havia séculos. Ele promoveu o culto exclusivo ao deus solar Aton, em uma das maiores mudanças religiosas da antiguidade. Para consolidar sua nova fé, transferiu a capital de Tebas para Akhenaton, uma cidade construída rapidamente e dedicada ao sol nascente.

A ruptura teve forte impacto político. O novo culto enfraqueceu o poder dos sacerdotes de Amon. Após sua morte, o sistema religioso tradicional foi restaurado. O faraó foi afastado da memória oficial. Seu nome foi removido de cartuchos. Estátuas foram quebradas. Amarna deixou de ser útil ao Estado e perdeu seu status de capital.

POR QUE ACREDITARAM NISSO?

A cidade existiu por apenas 20 anos e membros da família real morreram no local. Textos hititas mencionam uma praga associada a prisioneiros egípcios. Cartas diplomáticas da época citam doenças em outras regiões.

Essas referências se acumularam e passaram a ser tratadas como se fossem um único evento. “É um daqueles casos em que algo faz sentido lógico se você não olhar muito criticamente”, afirmou Dabbs ao Phys.org.

Ela pede cautela ao justificar um desfecho histórico a partir de informações isoladas. “Devemos ter cuidado ao usar dados de locais distintos no tempo e no espaço para fazer argumentos específicos sobre Amarna, ou qualquer local antigo”, disse.

O que ainda pode ser descoberto? O estudo não descarta totalmente a presença de doenças em Amarna. Mas os autores alertam que a simples identificação de um patógeno não prova a existência de uma epidemia. Ele pode ter circulado sem causar mortes em larga escala.

Tensões políticas e religiosas provavelmente tiveram papel mais decisivo no destino da cidade do que uma doença desconhecida. A queda de Akhenaton parece estar mais ligada ao fim de um reinado controverso do que a uma praga devastadora. Isso é o que indica a pesquisa.

 


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