Soberano Opina | A opinião que se impõe
Por Cláudio Ulhoa

Filho do Careca do INSS é preso pela PF em operação bilionária

Publicado em: 19/12/2025 15:51

Ação atinge ministério, mira senadores e expõe conexões políticas que indicam estrutura criminosa muito maior do que simples lobistas e servidores

Por Cláudio Ulhoa

A nova fase da Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal, escancarou mais um capítulo do que parece ser o maior esquema de rapinagem contra aposentados do Brasil. A PF prendeu Romeu Carvalho Antunes, filho do famoso “Careca do INSS”, e Eric Fideles, herdeiro do ex-diretor de benefícios do órgão. O número dois do Ministério da Previdência, Adroaldo Portal, foi afastado e colocado em prisão domiciliar. Até aqui, ok. O problema é tudo que está por trás desse “ok”.

Os investigadores estimam que o rombo pode chegar a R$ 6,3 bilhões em fraudes entre 2019 e 2024, dinheiro arrancado de quem vive com um salário mínimo e, muitas vezes, mal consegue ler o extrato do benefício. É o tipo de crime que exige mais do que prisão: exige vergonha na cara. E Brasília, sinceramente, parece não ter estoque dessa mercadoria.

O ponto que mais chama atenção nem são as prisões. É a pergunta que ninguém no poder quer formular em voz alta: quem é o chefe?

Se há um esquema bilionário envolvendo descontos ilegais, servidores de alto escalão, reuniões dentro do Ministério e até carros de luxo de quase R$ 700 mil, é óbvio que há uma estrutura político-financeira superior. Ninguém movimenta bilhões por cinco anos com duas dúzias de lobistas e assessores. Isso não é crime amador, é crime profissional.

E aí entra o desconforto político que Brasília tenta varrer para debaixo do tapete. A operação alcançou o Senado, atingiu aliados, ex-assessores, funcionários estratégicos e atravessou a porta do Ministério da Previdência. Quanto mais a PF aperta, mais perto chegam do núcleo político do governo.

O presidente Lula declarou que se houver alguém da família envolvido, que se investigue. O discurso é bonito para a TV. O problema é que o entorno dele faz de tudo para blindar convocações incômodas e evitar que a CPI avance para regiões sensíveis do mapa familiar e partidário.

A pergunta incômoda continua: se Portal não é o líder, quem é?

Políticos que deveriam ser os guardiões do dinheiro público repetem o teatro de indignação, mas evitam olhar diretamente para os espelhos do poder. Se a PF está certa, aposentados foram espoliados por anos enquanto líderes partidários, ministérios e gabinetes assistiam a tudo, no mínimo por incompetência, no máximo por cumplicidade.

É revoltante observar que os mesmos que repetem discursos sobre “cuidar dos mais pobres” estavam sentados em cima de um sistema fraudulento que assaltava os mais vulneráveis do país.

Se o Brasil quiser ser levado a sério, precisa parar de prender apenas os operadores e começar a expor os mandantes. Enquanto a PF captura filhos, assessores e intermediários, o topo da cadeia continua intocado. O país tem memória: já viu esse filme antes.

A opinião deste jornalista é simples: se o Estado não abrir a caixa-preta política desse crime, essa operação não será um marco histórico, será só mais um espetáculo para esfumaçar a vista do público enquanto os verdadeiros donos do cofre seguem livres.

E cabe à imprensa, especialmente à imprensa regional independente, empurrar o debate para onde Brasília não quer olhar. Jornalismo não existe para aplaudir. Existe para incomodar.

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