Justiça proíbe divulgação de áudios de Karina Milei em caso que sacode a Argentina
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Em um novo capítulo do escândalo de suposta corrupção envolvendo a irmã do presidente Javier Milei, Karina, um juiz federal da Argentina proibiu nesta segunda-feira (1º) que meios de comunicação publiquem gravações feitas dentro da Casa Rosada.
O caso que marca o pior momento do governo do ultraliberal começou há quase duas semanas, quando áudios atribuídos ao diretor à época da Andis (Agência Nacional para Pessoas com Deficiência), Diego Spagnuolo, apontam que a irmã do presidente se beneficiaria do suposto esquema de propinas ao lado de seu assessor mais próximo, Eduardo Lule Menem.
Karina cobraria, segundo o relato, 3% da propina paga pela Drogaria Suizo Argentina -empresa responsável pela distribuição os medicamentos. Spagnuolo, que era advogado pessoal de Milei e próximo ao presidente, foi demitido da agência.
Tanto o ex-diretor da Andis quanto os sócios da empresa tiveram celulares apreendidos após diligências da polícia à pedido da Justiça e do Ministério Público. A Suizo Argentina tem ligação tanto com Lule quanto com seu primo, Martín Menem, que é presidente da Câmara dos Deputados.
O escândalo dos áudios se difundiu rapidamente no país -diferentes levantamentos apontam que mais de 90% dos argentinos ao menos ouviram falar do caso- e colou nos irmãos Milei a suspeita de corrupção. Sem oferecer uma versão contundente para se defender, o governo se viu paralisado pela expectativa de novos vazamentos.
Foi aí que, na última sexta-feira (29), além das gravações atribuídas a Spagnuolo, dois novos arquivos foram publicados pelo canal de steaming Carnaval, que havia divulgado as primeiras mensagens do ex-diretor.
Neles, uma voz que seria de Karina Milei cobra empenho dos presentes em uma reunião, sem fazer menção às denúncias de Spagnuolo. “Não podemos entrar na briga. Temos de estar unidos”, diz a primeira gravação. “Então, aqui nem mesmo… porque, na verdade, eles não precisam estar aqui 24 horas por dia. Entro às 8h da manhã e saio às 11h da noite da Casa Rosada”, diz o segundo arquivo.
O jornalista que divulgou as gravações afirmou que o arquivo completo tem quase uma hora de duração. O círculo íntimo do governo, que culpa a oposição peronista pelos vazamentos, se fechou ainda mais e reagiu com uma reunião de emergência.
Em sua conta na rede social X, o porta-voz da Casa Rosada, Manuel Adorni, afirmou que as conversas privadas de Karina e outros funcionários foram gravadas, manipuladas e divulgadas para pressionar o Executivo. Segundo Adorni, a gravação foi ilegal e tem o objetivo de desestabilizar o país às vésperas das eleições legislativas nacionais (em 26 de outubro) e na província de Buenos Aires (no próximo dia 7).
Em sua decisão, o juiz Alejandro Maraniello sustenta “que o direito à liberdade de expressão deve ceder às graves repercussões que a divulgação dos áudios de Karina poderia acarretar”. “Tal situação configura danos difíceis ou impossíveis de reparar posteriormente, o que dá origem ao conceito de perigo na demora”, acrescenta.
O magistrado esclarece que a decisão se refere apenas aos áudios gravados na Casa Rosada, não a outros arquivos relacionados ao suposto esquema de corrupção.
Com o escândalo dos áudios e indicadores negativos na economia, as dificuldades eleitorais de A Liberdade Avança se acumulam, em pleitos que seriam uma demonstração de força do governo na metade do mandato de Milei.
No último domingo (31), os libertários já sofreram uma derrota na província de Corrientes, com seu candidato a governador, Lisandro Almirón, obtendo um quarto lugar, com apenas 9,51% dos votos. O vencedor foi Juan Pablo Valdés (que é irmão do atual governador, Gustavo) e conquistou 51,89%.
A decisão de concorrer com candidato próprio em vez de compor com o governo local foi uma estratégia de Karina. Na quinta-feira (28), a irmã do presidente teve de sair às pressas de um evento de campanha em Corrientes, após uma confusão, com insultos aos libertários e briga entre os participantes, que acabou com dois detidos. Um dia antes, o próprio Javier Milei e ela foram alvo de pedradas e insultos em um evento de campanha na Grande Buenos Aires.
O ministro-chefe da Presidência, Guillermo Francos, minimizou o resultado nas eleições de Corrientes, lembrando que o partido do governo é novo e enfrenta uma força política estabelecida na província. Francos expressou otimismo sobre o desempenho do espaço ligado a Milei nas eleições nacionais, quando um terço das cadeiras do Senado e metade da Câmara dos Deputados estarão em disputa.
Ele afirmou que há tempo suficiente entre as eleições de setembro e outubro para reverter a situação atual e obter vitórias, compensando a derrota em Corrientes e as esperadas dificuldades na província de Buenos Aires, que é governada pelo peronista Axel Kicillof.
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