Lucas Paquetá é inocentado em caso de suspeita de manipulação na Inglaterra
LUCAS BOMBANA E JOSUÉ SEIXAS
SÃO PAULO, SP, E MACEIÓ, AL (FOLHAPRESS) – O meia Lucas Paquetá foi inocentado nesta quinta-feira (31) no caso que investigava a suspeita de participação em esquema de manipulação de partidas da Premier League para favorecer apostadores.
Em maio de 2024, o jogador de 27 anos do West Ham havia sido acusado pela FA (Football Association, a federação inglesa de futebol) de forçar o recebimento de cartões amarelo em quatro partidas do campeonato inglês, em 2022 e 2023.
“Uma comissão reguladora independente concluiu que as acusações de má conduta contra Lucas Paquetá, do West Ham United, por supostas violações da Regra E5 da FA, não foram comprovadas”, informou a federação em nota publicada nesta quinta-feira.
O jogador formado na base do Flamengo publicou uma nota nas redes sociais em que celebrou a decisão e agradeceu aos familiares e ao seu clube pelo apoio.
“Desde o primeiro dia desta investigação, mantive minha inocência contra essas acusações extremamente graves. Não posso dizer mais nada neste momento, mas gostaria de expressar o quanto sou grato a Deus e o quanto estou ansioso para voltar a jogar futebol com um sorriso no rosto”, afirmou Paquetá.
“À minha esposa que nunca soltou minha mão, ao West Ham United, aos torcedores que sempre me apoiaram, e à minha família, amigos e equipe jurídica que me apoiaram -obrigado por tudo”, acrescentou.
A reportagem apurou que, ainda antes da decisão sobre o caso, o clube inglês cogitava negociá-lo. O Flamengo está entre os interessados. De acordo com o jornal Daily Mail, uma oferta na casa das 30 milhões de libras (R$ 222 milhões) seria suficiente para o West Ham aceitar a transferência. Agora, com a sua inocência, o valor pode subir.
Paquetá foi denunciado sob a regra E5.1 do regulamento de competições da federação inglesa, que diz que o jogador “não deverá, direta ou indiretamente, tentar influenciar, para fins impróprios, o resultado, o progresso, a conduta ou qualquer outro aspecto em conexão com um jogo ou competição”.
Os jogos em que o atleta teria recebido cartão de propósito foram contra Leicester (12 de novembro de 2022), Aston Villa (12 de março de 2023), Leeds (21 de maio de 2023) e Bournemouth (12 de agosto de 2023).
A denúncia da federação inglesa sustentava que Lucas Paquetá “buscou diretamente influenciar o andamento, a conduta ou qualquer outro aspecto ou ocorrência nessas partidas, intencionalmente procurando receber um cartão do árbitro com o propósito impróprio de afetar o mercado de apostas para que uma ou mais pessoas lucrassem com apostas.”
“O sistema de monitoramento do esporte deve ser rigoroso, mas justo. Não se pode punir um atleta sem prova robusta do seu envolvimento. A entidade reguladora na Inglaterra entendeu que não havia essa prova”, disse Luciano Andrade Pinheiro, especialista em direito do entretenimento e sócio do Corrêa da Veiga Advogados.
Apesar da decisão inocentando Paquetá, a comissão reguladora considerou comprovadas as acusações de má conduta contra o jogador por supostas violações da Regra F3 da FA, por supostas falhas em cumprir as obrigações de responder perguntas e fornecer informações à investigação.
A comissão ainda decidirá uma sanção apropriada para essas violações o “mais breve possível”.
Pelo regulamento, as punições podem variar de uma simples advertência até a suspensão por algumas partidas. A expectativa de pessoas envolvidas com o caso, porém, é que ele receba apenas uma multa.
A federação disse ainda que “aguarda as justificativas escritas da comissão reguladora em relação às suas decisões sobre as acusações e não fará mais comentários neste momento.”
A federação ainda pode recorrer da decisão tomada por um comitê independente junto ao CAS (Corte Arbitral do Esporte).
– Valor total das três transferências: 104,35 milhões de euros (R$ 676 milhões, na cotação atual)
– Principais títulos: Copa América (seleção brasileira), Conference League (West Ham), Campeonato Carioca e Copa São Paulo (Flamengo)
Fonte: Transfermarkt
Paquetá chegou ao West Ham em 2022 por 43 milhões de libras (R$ 321 milhões) vindo do Lyon.
Por conta do processo, negociações para sua transferência para o Manchester City acabaram frustradas, e o meia chegou a chorar em campo após receber um cartão amarelo do árbitro em partida contra o Tottenham. Ele foi substituído sete minutos depois.
O staff do jogador ainda não declarou se pretende entrar com um processo de perdas e ganhos contra a federação por conta da negociação frustrada com o City.
Ele seguiu atuando normalmente pela equipe da Premier League, mas foi cortado da seleção brasileira pelo então técnico Fernando Diniz, quando as denúncias vieram a público.
Ele voltou a ser chamado para a formação nacional em 2024, com a chegada de Dorival Júnior.
OUTROS CASOS
O ex-Botafogo Luiz Henrique, também com convocações recentes para a seleção brasileira e hoje no Zenit, da Rússia, e Bruno Henrique, do Flamengo, foram outros atletas que tiveram os nomes envolvidos recentemente com as crescentes suspeitas em torno do mercado de apostas no futebol.
Atletas de menor projeção também já receberam punições pela participação nos esquemas de apostas, que vão desde a suspensão temporária até o banimento do futebol, frutos da operação Penalidade Máxima, do MP-GO (Ministério Público de Goiás).
O atacante rubro-negro foi denunciado em junho pelo MP-DF (Ministério Público do Distrito Federal) pelos crimes de estelionato e fraude esportiva.
Segundo a investigação da Polícia Federal, ele teria compartilhado informação antecipada sobre o recebimento de um cartão amarelo em uma partida do Campeonato Brasileiro de 2023 para beneficiar um esquema de apostas esportiva.
Caso seja condenado, as penas máximas podem chegar a até 17 anos e oito meses de prisão. O MP-DF pediu ainda que Bruno Henrique pague R$ 2 milhões por danos morais coletivos.
Quando foi indiciado, em abril, a defesa de Bruno Henrique afirmou que o atleta “nunca esteve envolvido em esquema de apostas.”
Já Luiz Henrique é alvo de investigação na Espanha por suposto envolvimento com uma “organização criminosa dedicada à manipulação de resultados nas apostas desportivas”.
O nome do atacante apareceu em relatório de 2023 da SportsRadar, empresa que monitora movimentações suspeitas em apostas, por causa de um volume incomum de apostas casadas: ele, então no Betis, da Espanha, e Lucas Paquetá, no West Ham, receberiam cartões amarelos em suas partidas, o que de fato ocorreu.
Segundo o UOL, familiares de Paquetá fizeram transferências de R$ 40 mil para Luiz Henrique, dias depois.
O jogador também negou que tenha participado do esquema de apostas. “Acho que querem apagar o meu brilho, mas eu sei que não vão conseguir. Sei que Deus está comigo, minha família está comigo, e nada disso está acontecendo”, declarou.
No futebol brasileiro, jogadores que, segundo a investigação do MP-GO, aceitaram participar dos esquemas foram suspensos temporariamenter, caso do zagueiro Eduardo Bauermann e o do atacante Alef Manga. Eles receberam suspensões de 360 dias e hoje atuam por Pachuca, do México, e Avaí, respectivamente.
Aqueles que participaram e também buscaram aliciar outros atletas receberam pena mais dura, com o banimento do esporte, caso de Marcos Vinicius Alves Barreira, ex-Vila Nova, Ygor Catatau (Sampaio Corrêa), Gabriel Tota (Juventude) e Matheus Phillipe (Olaria).
“No Brasil, temos evoluído muito rapidamente tanto no monitoramento quanto no julgamento de atletas supostamente envolvidos em manipulação de resultado, mas há muito ainda a ser feito, sobretudo na conscientização de atletas sobre o que é a aposta e as consequências de se render a essa atitude nefasta ao esporte”, afirmou Pinheiro.
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LEIA ABAIXO A ÍNTEGRA DA NOTA PUBLICADA PELA FEDERAÇÃO INGLESA
Uma comissão reguladora independente considerou não comprovadas as acusações de má conduta contra Lucas Paquetá, do West Ham United, por supostas violações da regra E5 da FA.
Lucas Paquetá foi acusado de quatro supostas violações da Regra E5.1 da FA em relação à sua conduta durante as partidas do clube na Premier League contra o Leicester City em 12 de novembro de 2022; Aston Villa em 12 de março de 2023; Leeds United em 21 de maio de 2023; e AFC Bournemouth em 12 de agosto de 2023.
Foi alegado que Lucas Paquetá buscou diretamente influenciar o andamento, a conduta ou qualquer outro aspecto ou ocorrência nessas partidas, intencionalmente procurando receber um cartão do árbitro com o propósito impróprio de afetar o mercado de apostas para que uma ou mais pessoas lucrassem com apostas.
Lucas Paquetá negou as acusações contra ele, e a comissão reguladora as considerou não comprovadas após uma audiência.
A comissão reguladora considerou comprovadas as acusações de má conduta contra o jogador por supostas violações da regra F3 da FA.
Lucas Paquetá foi acusado de duas violações da Regra F3 da FA em relação a supostas falhas em cumprir suas obrigações de responder perguntas e fornecer informações à investigação da FA.
Lucas Paquetá negou as acusações contra ele, mas a comissão reguladora as considerou comprovadas após a audiência. A comissão reguladora decidirá uma sanção apropriada para essas violações o mais breve possível.
A FA aguarda as justificativas escritas da comissão reguladora em relação às suas decisões sobre as acusações e não fará mais comentários neste momento.