Lula amplia falas dentro e fora do Brasil para surfar onda favorável
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dará sequência à campanha em busca da retomada da popularidade perdida e quer continuar surfando em dois assuntos que, segundo o Planalto, tem lhe rendido bons frutos ante a opinião pública: a guerra comercial deflagrada pelo presidente dos Estados Unidos contra o Brasil e a queda de braço com o Congresso Nacional.
Na avaliação de interlocutores do PT, caso Trump não cancele a taxação de 50% os produtos brasileiros importados pelos EUA, o governo terá pelo menos mais 15 dias com o assunto em alta. Com relação ao Congresso, o Planalto avalia que deputados e senadores do Centrão estão acuados ante as cobranças sobre justiça tributária, alta na conta de luz e aumento do número de parlamentares. Ou seja, não seria o momento de Lula por o “pé no freio”.
Segundo a Casa Branca, a tarifa começará a valer a partir de 1º/8. Caso Washington não recue, a disputa continuará em vigor e o vice-presidente, Geraldo Alckmin, terá uma ampla avenida para continuar seu trabalho de aproximar o governo e empresariado, além do agronegócio. Ele, que acumula o cargo de ministro da Indústria, Comércio e Serviços, tem feito o trabalho operacional de desenhar a resposta brasileira, enquanto Lula tem alardeado a ofensiva dos EUA.
Bom momento para Lula
- Pesquisa Quaest apontou queda da desaprovação do governo, que passou de 57% para para 53%. A aprovação subiu de 40% para 43%.
- Segundo o levantamento, o resultado teve entre seus fatores o recente embate do petista com o presidente dos EUA, Donald Trump.
- “A pesquisa revela ainda que a maioria dos entrevistados (53%) apoia a declaração de Lula de que o Brasil deve responder com medidas equivalentes às tarifas impostas pelos Estados Unidos”, diz o diretor da Quaest, o professor e cientista político Felipe Nunes.
- O levantamento ainda diz que, para 53%, Lula está certo ao reagir com medidas de reciprocidade;
- Além disso, 72% acham que Trump erra ao usar o argumento pró-Bolsonaro para para justificar as tarifas;
- e 57% acreditam que ele não tem direito de criticar o processo em que Bolsonaro é réu.
Somente nesta quinta-feira (17/7), o petista abordou o assunto em quatro ocasiões diferentes. Duas em agendas pelo país, uma em pronunciamento oficial transmitido pela TV, e ainda em entrevista concedida à CNN Internacional. É uma estratégia de reforçar a ideia de um “inimigo comum” tanto internamente quanto externamente.
Tem dado certo, segundo as pesquisas. A nova rodada da Genial/Quaest, divulgada nessa quarta-feira (16/7), mostra que a desaprovação ao governo do presidente recuou para 53%, enquanto a aprovação subiu para 43%.
Mas o governo também tem tentado falar para fora, para reverberar o seu discurso e atingir Trump no exterior. Além da entrevista do presidente à CNN, esta semana Jorge Messias, o chefe da Advocacia-Geral da União (AGU), publicou um artigo no New York Times, onde defendeu o Supremo Tribunal Federal (STF) e a soberania do Brasil.
Lula e o Congresso
Enquanto isso, com relação ao Legislativo, a estratégia é falar menos e agir mais. O governo sofreu uma dura derrota no Congresso em junho, com a derrubada surpresa do reajuste do Imposto sobre Operações Financeira (IOF) e viu a Medida Provisória (MP) com alternativas arrecadatórias empacar por falta de interesse de deputados e senadores de taxar os chamados super ricos e áreas da economia atualmente isentas.
Até então, o governo vivia uma espécie de “inferno astral” instaurado no início de 2025 com a crise do Pix e o escândalo da farra do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A maré começou a mudar quando o Congresso encareceu a conta de energia dos brasileiros ao derrubar vetos de Lula, irritando as redes sociais. Em seguida, o PT comprou a briga e levantou o tema da justiça tributária, levando o Legislativo a um novo revés digital.
O último avanço de Lula sobre o Congresso foi vetar o aumento do número de deputados de 513 para 531, logo após o Supremo Tribunal Federal (STF) garantir a retomada do reajuste do IOF. Conforme aliados, Lula surfa numa pauta impopular ao barrar o aumento da quantidade de parlamentares e obrigará o Congresso a reacender o tema num futuro próximo.
Lula ignorou ala política
Segundo interlocutores do presidente, Lula foi aconselhado por aliados no Congresso a não vetar o aumento do número de deputados. A saída ideal, para essa ala política, seria não tomar nenhuma decisão.
O prazo para vetar ou prorrogar o projeto seria encerrado nesta quarta-feira (16/7). Deixando o texto “passar”, o Congresso poderia promulgar o aumento de parlamentares sem a digital do Executivo.
Seria uma maneira de atender ao interesse corporativo do Legislativo sem deixar o Executivo ser arrastado para a maré negativa frente à opinião pública. Ao vetar, porém, Lula decidiu tentar aproveitar a chance para eventual ganho de popularidade.
Bing News