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Por Cláudio Ulhoa

Lula escolhe Grass e deixa Cappelli no banco

Publicado em: 01/12/2025 08:00

Enquanto Leandro Grass ganha tapete vermelho, Cappelli mal recebe tapinha nas costas e olha lá

Por Cláudio Ulhoa

Há quem diga que Brasília vive de símbolos. Pois bem: Ricardo Cappelli virou exatamente isso, um símbolo do político que acredita no próprio mito enquanto o mundo real desaba ao redor. O homem que um dia foi secretário-executivo do Ministério da Justiça, interventor no DF, presidente da ABDI e tudo mais que cabia no crachá agora amarga um papel ingrato: o de figurante que tenta parecer protagonista. E, claro, faz isso com a segurança típica de quem ainda não percebeu que a cadeira está balançando.

Enquanto isso, no andar de cima do Planalto, Lula já escolheu o queridinho do momento: Leandro Grass. O mesmo Grass que, apesar de não ser unanimidade nem na Rodoviária do Plano Piloto, consegue ser mais útil ao presidente do que Cappelli, cuja coleção de suspeitas começa a parecer álbum de figurinha.

Mas o roteiro fica realmente interessante quando entra em cena a novelinha da ABDI. Diárias suspeitas, algumas para viagens que duraram menos que um café passado na hora, denúncias de uso político da agência, repasses mirabolantes e aquela sensação deliciosa de déjà vu que só Brasília consegue proporcionar. A Polícia Federal, claro, está afiando os dentes. E Cappelli, que vive ironizando prisões de generais como se estivesse acima do bem e do mal, pode muito bem acabar escolhendo o tamanho da tornozeleira em catálogo.

A ironia é tão grande que parece encomendada. O homem que adorou posar como xerife do 8 de janeiro, posando para fotos como salvador institucional, agora precisa explicar por que a agência que ele comanda virou assunto de TCU e MPF. No DF, isso se chama “virada de jogo”. No Brasil, chamamos de “terça-feira”.

Nem o padrinho Flávio Dino, hoje ministro do Supremo e mais ocupado que caixa eletrônico no quinto dia útil, deve arriscar seus próprios holofotes para defender Cappelli. A lealdade em Brasília é como guarda-chuva de camelô: abre, quebra e some antes da primeira chuva forte. Dino sabe que não vale gastar capital político com quem pode virar investigado de luxo.

Enquanto isso, Grass segue crescendo. Devagar, discreto, quase invisível, mas crescendo. Um estilo curioso, mas aparentemente mais confiável que o de quem tenta abafar suspeitas com frases de efeito no X (Twitter). Lula, ao que tudo indica, já sacou a diferença entre utilidade e barulho.

O mais trágico para Cappelli é que, no jogo de poder, a humilhação raramente é explícita. Ela vem camuflada em silêncio. E o silêncio de Lula em relação ao “projeto Cappelli 2026” é ensurdecedor. Brasília inteira já percebeu, menos ele.

Em resumo: enquanto Grass ganha espaço no tabuleiro, Cappelli tenta sobreviver à própria sombra. Não está fácil ser personagem secundário quando se acredita ser protagonista. Mas, convenhamos, se tem coisa que Brasília nos ensina é que, às vezes, o figurante é justamente quem mais tenta parecer estrela. Até aparecer a PF com o roteiro final.

Adendo crítico

E para não dizer que este texto poupou alguém, vale o registro: se Cappelli tropeça nos próprios excessos, Grass também não desfila exatamente como exemplo de pureza política. Sua trajetória, recheada de derrotas eleitorais, alianças maleáveis e discursos que mudam conforme a plateia, o transforma mais em produto de conveniência do que em líder transformador.

E Lula? Bom, Lula faz o que sempre fez: escolhe aliados conforme a maré, aceita quem lhe serve, descarta quem pesa e posa de maestro enquanto o país observa a orquestra desafinar. Não há mocinhos nesse palco, apenas personagens disputando holofote. Se são rosas, são daquelas que só desabrocham espinhos.

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