Lula reclama de Trump, mas já criticou política de outros países
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reclamou nesta segunda-feira (7) após seu homólogo americano, Donald Trump, defender o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Indignado, o petista disse a jornalistas e nas redes sociais que a “defesa da democracia no Brasil é um tema que compete aos brasileiros” e criticou a “interferência” do republicano.
No entanto, recentemente, o próprio Lula palpitou e, de fato, interferiu em assuntos internos de países vizinhos. Em abril, Lula concedeu asilo “por razões humanitárias” e mobilizou a Força Aérea Brasileira (FAB) para buscar a ex-primeira-dama do Peru Nadine Heredia, condenada a 15 anos de prisão por corrupção em um desdobramento da Operação Lava Jato.
Ela teria problemas de saúde e veio acompanhada de seu filho menor de idade. A imprensa peruana criticou a decisão do governo petista. O jornal “El Comercio” estampou em sua capa a manchete: “Fortes críticas a Lula no Brasil por outorgar asilo a Nadine Heredia”, e citou o ex-chanceler Francisco Tudela, apontando que “o asilo do Brasil a Nadine Heredia é irregular, foi outorgado a quem não se qualifica”.
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) afirmou que Lula “não tem moral alguma para falar em interferência” ao lembrar que o presidente defendeu a libertação da ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner e concedeu asilo à ex-primeira-dama do Peru.
“Lula foi à Argentina defender Cristina Kirchner, deu asilo político para Nadine Heredia, pediu apoio da China para discutir a censura das redes sociais e quando foi preso recorreu a organizações internacionais. Não tem moral alguma para falar em interferências”, afirmou Nikolas, citando também que o presidente pediu ao ditador chinês, Xi Jinping, que enviasse uma pessoa “de confiança” ao Brasil para discutir a regulação das redes sociais.
“Cristina libre”
No ano passado, o presidente Javier Milei criticou a “forte interferência” de Lula na campanha eleitoral “mais suja” da Argentina. “Depois das agressões de Lula (em especial sua forte interferência na campanha eleitoral e o sólido apoio à campanha mais suja da história), se queixa porque lhe respondo com a verdade (esteve preso por corrupção e é comunista)”, disse o mandatário argentino.
O PT defendeu a candidatura de Sergio Massa à presidência da Argentina. Massa era o candidato do então presidente da Argentina, Alberto Fernández, amigo de Lula.
Na semana passada, o mandatário visitou a ex-presidente da Argentina, que cumpre prisão domiciliar em Buenos Aires após ser condenada por corrupção, e posou para fotos segurando um cartaz com a frase “Cristina libre”, uma referência ao “Lula livre” entoado por militantes de esquerda quando o petista estava preso.
Lula estava acompanhado pelo escultor argentino Adolfo Pérez Esquivel, prêmio Nobel da Paz de 1980, que alega que Cristina é vítima de “lawfare”, o uso do sistema judicial para perseguir rivais políticos. Aliados do presidente também sustentam que ele teria sido alvo dessa prática ao ser condenado pela Lava Jato.
Hoje, a oposição ao governo aponta o uso político da Justiça contra Bolsonaro. O ex-presidente é réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por suposta tentativa de golpe de Estado, o que ele nega.
Lula defendeu democratas contra Trump nas eleições dos EUA
Durante o período eleitoral americano, Lula defendeu a reeleição do democrata Joe Biden contra Trump. “Eu sou simpático ao Biden, acho que o Biden é a certeza de que os Estados Unidos vão continuar respeitando a democracia. O Trump já deu aquela demonstração quando ele invadiu o Capitólio, que não é uma coisa correta de fazer, ele fez lá um pouco que tentaram fazer aqui no Brasil com o golpe de 8 de janeiro”, disse o petista em 27 de junho de 2024.
O presidente também manifestou apoio a Kamala Harris, que substituiu Biden na disputa. “Nós vimos o que foi o presidente Trump no final do mandato, fazendo aquele ataque contra o Capitólio, uma coisa impensável de acontecer nos EUA, que se apresentava ao mundo como modelo de democracia”, disse em novembro do mesmo ano.
Posicionamento sobre ditador aliado
“Apesar das denúncias de fraude feitas pela oposição venezuelana e por órgãos internacionais, o presidente Lula afirmou estar “convencido” de que o processo eleitoral na Venezuela foi “normal” e “tranquilo”. Ele foi representado pela embaixadora do Brasil em Caracas, Glivânia Maria de Oliveira, na cerimônia de posse do aliado.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE), controlado pelo regime chavista, declarou a vitória do ditador Nicolás Maduro sem divulgar as atas de votação para referendar ou não o resultado do pleito realizado em julho de 2024. Segundo o CNE, Maduro teve 51% contra 44% de Edmundo González, principal candidato da oposição. Opositores, como María Corina Machado, apontaram que o bloco Plataforma Unitária Democrática (PUD) obteve 73% das atas.
Busca de protagonismo em guerras de outros países
Lula tentou emplacar um acordo costurado com a China para o cessar-fogo na guerra entre Rússia e Ucrânia durante a viagem, mas sem sucesso. O mandatário brasileiro chegou a fazer um apelo para que o ditador russo, Vladimir Putin, participasse presencialmente das negociações de paz com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, em Istambul, na Turquia, o que não ocorreu.
Lula deu a entender que a Ucrânia não conseguirá retomar todos os seus territórios ocupados pela Rússia. “Eu, sinceramente, acho que no subconsciente, ou melhor, no inconsciente de todos os líderes políticos do mundo, todo mundo sabe o que vai acontecer. Todo mundo sabe que as condições do acordo já estão colocadas. O que está faltando é coragem das pessoas dizerem o que querem. Vocês acham que o Putin vai sair da Crimeia? Nem ele quer sair, nem Zelensky quer perceber que a outra parte já invadiu e que ainda não tomou definitivamente”, disse o petista, em junho.
Nesta segunda (7), ele voltou a criticar a Organização das Nações Unidas (ONU) pelo conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza. Para Lula, a ONU e o Conselho de Segurança não representam mais a atual geopolítica do mundo de como era quando foram criados após a Segunda Guerra Mundial. O presidente acusa o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de “genocídio” e chegou a ser declarado “persona non grata” em Israel comparar a ofensiva israelense ao Holocausto.
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