Para competir globalmente, Brasil deve investir em política industrial

Publicado em: 11/07/2025 14:31

A atividade industrial muda a maneira de viver. Ela gera riqueza, receita, emprego. Transformador, o setor descortina novos cenários e cria mais demandas no Brasil. Foi em cima dessa reflexão que especialistas se debruçaram no evento “Brasil industrializado: o futuro do país em transformação”, promovido pelo Metrópoles, nessa quinta-feira (10/7), em Brasília (DF), no Ulysses Centro de Convenções.

Com oferecimento da ABDI, o encontro reuniu representantes do setor e autoridades para debater os novos rumos do desenvolvimento industrial nacional.

Afinal, só em 2024, o setor industrial cresceu 3,3%, contribuindo diretamente para o avanço de 3,4% do Produto Interno Bruto (PIB), que chegou a R$ 11,7 trilhões. Os dados do IBGE ainda apontam para o terceiro melhor desempenho dos últimos 15 anos. Assim, o segmento se consolida como o pilar da economia nacional.

Para abrir o talk, o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Social (ABDI), deixou uma mensagem, em vídeo, sobre o futuro da indústria no país. “Agora, o Brasil voltou a crescer. É importante defender a indústria, o emprego. Não podemos ficar refém do estrangeiro”, salientou.

Assista a live completa:

Novo ciclo da indústria

No primeiro painel, Jefferson de Oliveira Gomes; diretor de Desenvolvimento Industrial, Tecnologia e Inovação da CNI; Poliana Carvalho, diretora de Transformação Digital, Inovação e Novos Negócios do MDIC; José Luís Gordon, diretor de Desenvolvimento, Produtivo, Inovação e Comércio Exterior do BNDES; e Roberto Pedreira, gerente de Monitoramento e Avaliação da ABDI; debateram sobre transformação digital e o novo ciclo da indústria.

De acordo com Roberto Pedreira, o crescimento da indústria, em 2022, foi bastante significativo, mas dentro de uma base de decréscimo, com queda nos anos anteriores.

Depois disso, o panorama foi diferente. A economia mostrou um nível de sustentabilidade devido a um conjunto de instrumentos, como recordes de investimentos e desembolsos, o que aqueceu a economia da pequena indústria.

“Todos os recordes históricos promoveram geração de emprego, estoque de emprego e ocupação”, complementou.

Para Poliana, a industrialização, hoje, é um imperativo, com soberania tecnológica e digital. “O Brasil deu um salto em termos de tecnologias avançadas, incluindo robótica, nuvem, IA e todo o conjunto de tecnologias”, explicou.

Porém, ainda não é suficiente. “Temos o desafio de mudar o patamar e fazer com que as empresas alcancem ainda mais tecnologias. Para isso, são necessários conjuntos de iniciativa. E o MDIC não tem medido esforços para isso”, acrescentou.

Já na visão de José Luís Gordon, os países mais desenvolvidos são tidos como referência. Isso porque eles tiveram políticas públicas voltadas para o setor industrial constante. “Finalmente, o setor se tornou o centro da agenda do país. Afinal, para a indústria gerar renda e emprego, é preciso de inovação”, salienta.

“Tudo é fruto de uma decisão política. E que essa decisão tenha como foco essa agenda industrial, para criação de diversos instrumentos para o digital, inclusive a sustentabilidade”, afirmou.

Gordon ainda citou o plano Mais Produção, em que há a coordenação de bancos públicos e agências de inovação, para estimular a indústria.

Política industrial

Segundo Gordon, só o BNDES, Finep e Embrapii, desde 2023, investiram mais de 50 bilhões de reais para a indústria inovar. “Isso é algo que nunca tinha acontecido, seja com crédito, recursos não reembolsáveis e fundos”, afirmou.

Jefferson Gomes ainda debateu sobre esforços, a partir de duas palavras importantes: abundância e coordenação. Os termos estão inclusos dentro da política industrial definida. “É uma agenda de Estado, não de governo, que não deve ser perdida”, reforçou.

E, quando há uma quantidade de ações enormes, é natural que se tenham desafios nos demais setores. Então é preciso de gente, infraestrutura e legislações. “Temos desafios atrelados à qualidade de mão de obra, potência e preço. E a conectividade é uma latência, porque triplicou a quantidade de serviços de TI”, apontou.

Poliana ainda reforçou a importância da política nacional voltada a data centers, com a primeira etapa dela prevista para as próximas semanas no país. “Hoje, o Brasil conta com 170 espaços. Mas, é preciso avançar para ter melhor distribuição de tecnologia. Temos o potencial de ser um hub para data center”, assegurou.

Gordon revelou que o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) investiu 2,2 bilhões para levar a conectividade a comunidades, favelas, escolas públicas e regiões mais vulneráveis.

Indústria verde

Na visão de Jefferson, o Brasil tem oportunidades de levar a agenda industrial para todo o país, levando em consideração o meio ambiente e onde se pode desenvolver tecnologia nele.

Inclusive, Roberto defendeu que é fundamental que os investimentos industriais se estabeleçam na transição energética. “A ABDI tem acompanhado todo o processo do programa Mover, que fortalece o uso de energias sustentáveis”, ponderou.

Trata-se de um desafio ser uma indústria verde. Porém, Poliana enxerga uma janela de oportunidade mundial, a partir da energia renovável. “É super possível agregar o valor das tecnologias nesses serviços”, certificou.

Gordon reforçou o ponto sobre sustentabilidade. “Foi criado um fundo Clima, vindo a partir de uma decisão política de indústria verde. E o Brasil é um dos grandes autores da indústria verde, que tem como exemplos estudos relacionados ao combustível de aviação e marítimo, além de discutir minerais críticos também.”

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Autoridades no assunto reforçaram a necessidade de tornar a indústria uma agenda emergente

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Talk trouxe dados e cenários industriais para o debate

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Especialistas apontaram os rumos da indústria no Brasil

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Ricardo Capelli abriu o evento, por meio de vídeo, reforçando o potencial brasileiro na área

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Desenvolvimento estratégico

Já o segundo painel debateu sobre o tema “O papel estratégico da indústria para o desenvolvimento”. Para discorrer sobre o assunto, Jarbas Ari Machado, vice-presidente setorial da Fibra; Álvaro Prata, presidente da Embrapii; e Gustavo Leal, diretor-geral do Senai; marcaram presença.

De acordo com Álvaro Prata, o setor de recursos humanos é um ponto crítico atualmente. “Precisa-se de gente qualificada para operar nessas indústrias, então é necessário investir em educação técnica, profissional e especializada capaz de avançar na pesquisa e desenvolvimento”, ressaltou.

Jarbas reforçou a afirmação e traçou um panorama sobre um tema delicado no DF. De acordo com estudos recentes, hoje, precisa-se formar ou requalificar 186 mil jovens até 2027. Então, surge uma preocupação com o gargalo na mão de obra, porque falta qualificação.

“Dentro desse número, precisará de 25 mil na construção civil, 23 mil na tecnologia da informação, 13 mil na manutenção e reparação de veículos, 16 mil em alimentação de bebidas e 46 mil profissionais em logística”, revelou.

Além disso, Gustavo levantou a importância de atrair os jovens para formações, porque os empregadores estão com dificuldades para contratar pessoas. “Isso se deve, principalmente, à rápida mudança tecnológica, além das formas e relações de trabalho.”

IA

Jarbas destacou uma terceira mudança tecnológica que está ocorrendo na sociedade: a chegada da IA. “Precisamos de uma reformulação industrial local, porque ela também precisa chegar à tecnologia de ponta. Isso é importante para reduzir a dificuldade de acessar crédito, qualificação, até porque microempresa pode faturar muito mais do que uma grande”, pontuou.

Gustavo salienta que o papel do Senai é levar conhecimento a empresas para tomarem boas decisões. “Operamos hoje com o programa Brasil Mais Produtivo, justamente para atender pequenas empresas no sentido de torná-las mais produtivas.”

Assim, o programa ensina como elas podem se apropriar das novas tecnologias. “O processo melhora o vai e vem, a organização, o layout e, com isso, já tem aumento de produtividade, na ordem de 22%”, ressaltou.

Após isso, vêm as digitalizações para a empresa. Sensoriar uma linha de produção é um exemplo. Depois dessa medição, os dados vão para a nuvem (armazenamento digital). Logo após, números se tornam informações, que são devolvidas à gestão para tomada de decisões.

Segundo Gustavo, 12 mil empresas já foram atingidas pelo programa.

Jarbas explicou sobre como é possível trabalhar melhor a qualificação de jovens, pensando na modernidade. “É necessário aproximar a academia do setor produtivo. Como? Sabendo as demandas do setor produtivo. Não adianta estudar 50 matérias das quais o mercado não precisa. É importante ser preciso”, pontuou.

A fim de competir globalmente a partir de projetos industriais, o Brasil precisa apostar nas atividades científicas. Para os especialistas, os setores da indústria devem receber investimentos, sintonizados nas mudanças em curso, como as naturais, climáticas, sustentáveis e de aquecimento global.


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