Parlamentares de centro veem enfraquecimento do bolsonarismo com tarifaço, mas ressaltam ‘longo caminho’ até 2026
Integrantes das cúpulas de partidos de centro como PP, MDB e PSDB avaliam que o episódio do anúncio do tarifaço do presidente americano Donald Trump pode ser o início de um enfraquecimento mais substancial do bolsonarismo, com possível impacto na campanha eleitoral de 2026. Reservadamente, integrantes desses partidos ponderam, no entanto, que o caminho até outubro de 2026 é longo e as “nuvens da política” mudam rápido.
Parlamentares acreditam que o impacto da crise iniciada com a tentativa de Trump de responder à “caça às bruxas” a que Jair Bolsonaro estaria submetido será visto de forma mais clara nos próximos meses.
Segundo congressistas, a efetividade ou não das tarifas de Trump pode ainda mudar a narrativa política vencedora. Por enquanto, esses líderes partidários enxergam o governo de Luiz Inácio Lula da Silva com uma larga vantagem no discurso em defesa da soberania.
A queda na influência de Bolsonaro no ambiente digital pode ainda abrir brecha para que um novo personagem da centro-direita ganhe palanque até o próximo ano, segundo integrantes de partidos de centro. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, vem sendo cotado como favorito desse segmento político, e na quarta-feira tratou a decisão de Trump como “deletéria”.
Na quinta-feira, o governo partiu para ofensiva. Em entrevista à Record, Lula fez uma crítica direta a Tarcísio, ao relembrar que o governador já usou o boné de campanha do presidente dos Estados Unidos com o slogan “Make America Great Again” (Faça a América Grande Novamente).
— Se vou ser candidato ou não são outros quinhentos. Agora, os loucos que governaram esse país não voltam mais. O seu Tarcísio pode tirar, mas não vale tentar esconder o chapeuzinho do Trump não, Tarcísio. Pode ficar mostrando para a gente saber quem você é. Está cheio de lobo com pele de carneiro — disse Lula.
Segundo uma liderança de partido de centro, Lula é favorecido pelo momento político, mas pode perder capital político se insistir em apoiar regimes políticos polêmicos e autoridades internacionais questionáveis.
Na quarta-feira, os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), reagiram de forma tímida à ofensiva de Trump. Ambos preferiam enaltecer o papel da diplomacia.
“A decisão dos Estados Unidos de impor novas taxações sobre setores estratégicos da economia brasileira deve ser respondida com diálogo nos campos diplomático e comercial”, diz um trecho do comunicado.
Embora não defendam diretamente que o Brasil revide o governo americano, no texto, Motta e Alcolumbre também lembraram da Lei de Reciprocidade Econômica, que permite ao Brasil responder na mesma medida quando for alvo de sanções outros países.
A lei, citada por Lula, também foi lembrada por outros líderes, como Pedro Lucas Fernandes (União-MA).
“Manter o diálogo e cultivar boas relações internacionais é fundamental para proteger a nossa economia. A taxação imposta pelos EUA acende um sinal de alerta e exige uma resposta responsável, com foco na defesa do setor produtivo e dos empregos. O Congresso já demonstrou seu compromisso ao aprovar a Lei da Reciprocidade Econômica, um instrumento que garante ao país o direito de agir com equilíbrio e firmeza para defender nossa soberania e preservar a competitividade do Brasil no cenário global”.
Embora integrantes do PP encarem a situação como um revés a Bolsonaro, parte da legenda preferiu tentar colar o desgaste em Lula.
“Presidente Lula, o senhor está satisfeito agora? O senhor declarou apoio à opositora do então candidato Trump. Era o melhor para o Brasil? Não. Mas o senhor preferiu colocar a ideologia acima do interesse do povo”, escreveu o presidente do PP, Ciro Nogueira.
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