Putin lança submarino nuclear com ‘torpedo do Juízo Final’

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Rússia elevou a aposta na disputa nuclear com o governo de Donald Trump, lançando neste fim de semana o primeiro submarino nuclear de série desenhado para empregar o Poseidon, conhecido como “torpedo do Juízo Final”.
O Khabarovsk foi lançado ao mar no sábado (1º) com a presença do ministro da Defesa, Andrei Belousov, e o comandante da Marinha, Aleksandr Moiseev, que estourou uma garrafa de espumante no casco da embarcação no estaleiro da Sevmach, em Severodvinsk, no Ártico.
Foi uma surpresa não anunciada, mas com um “timing” específico. O Khabarovsk, um monstrengo com estimados 113 metros de comprimento e deslocamento de 10 mil toneladas, estava em lenta construção desde 2014.
Ele é coberto de segredos, inaugurando uma nova classe de navios, que deverá ter quatro unidades capazes de levar mísseis de cruzeiro, torpedos e seus unidades do Poseidon, baseada em Kamtchaka, no Pacífico.
Seu lançamento ocorreu três dias depois de Vladimir Putin anunciar que a Marinha havia testado com sucesso o Poseidon, uma de suas “armas invencíveis” anunciada em 2018, para ceticismo geral da comunidade de analistas militares.
No domingo anterior (26), o presidente russo já havia dito ter realizado um ensaio bem-sucedido do míssil de cruzeiro Burevestnik, outra das superarmas. Em comum, ambos os modelos empregam um reator nuclear em miniatura para a propulsão, o que lhes garante uma autonomia indefinida.
Tudo isso ocorre em meio ao fracasso de Trump em promover um acordo de paz na Guerra a Ucrânia, e pode ser lido como uma forma de pressão de Putin no momento em que o americano impôs sanções a petroleiras russas.
Há diversas dúvidas acerca da viabilidade e da utilidade real desses armamentos, em particular do Poseidon, que é um grande drone autônomo de 24 metros que pode levar uma ogiva nuclear que, a depender dos relatos da mídia russa, vai de 2 megatons até até inimagináveis 100 megatons, o dobro da potência da maior bomba nuclear já testada.
A apresentação do Khabarovsk sugere que a coisa é para valer. Até aqui, o Poseidon era testado com o Belgorodo, um antigo submarino da classe soviética Oscar-2 muito modificado para ensaios com armas. O modelo lançado agora é um modelo novo.
“É um evento muito significativo para nós”, disse Belousov. A parte posterior da embarcação estava visível na cerimônia, com seu sistema de propulsão a hidrojato parcialmente coberto. Usualmente, os grandes segredos de novos submarinos são justamente nas hélices, neste caso mais silenciosas.
O Khabarovsk agora irá para a fase de testes de mar, que pode levar de um a três anos. O emprego do Poseidon o coloca numa posição intermediária entre um submarino de ataque tático, dos quais a Rússia tem 40, e de ação estratégica, que são 12 lançadores de mísseis com ogivas nucleares.
A movimentação russa e o crescente arsenal chinês fizeram Trump reagir, ao estilo Trump: pouco antes de se encontrar com o líder Xi Jinping na quinta (30) em Busan, na Coreia do Sul, o americano anunciou em rede social que iria retomar testes com armas nucleares para empatar o jogo com outras potências.
Como não deixou claro se isso significaria romper a moratória em testes explodindo bombas no subterrâneo, adotada em 1992 pelos EUA, Trump aumentou o suspense ao ser questionado na sexta (31) sobre isso. “Vocês vão ver”, disse.
Se ele vai detonar uma ogiva, é incerto, mas é provável que realize um teste com o míssil Minuteman-3, o esteio de suas forças lançadas de silos terrestres.
Os EUA emitiram um alerta de navegação isolando áreas de seu campo de provas junto às suas Ilhas Marshall, no Pacífico, onde as armas caem após serem lançadas da Califórnia. Os alertas valem para quarta (5) e quinta (6). Testes com Minuteman são corriqueiros, e o mais recente foi em maio.
Especialistas em desarmamento estão alarmados com a escalada, pois a Rússia já disse que explodirá bombas caso os EUA o façam, e certamente outras potências irão segui-los, esvaziando esforços para reduzir a atividade nuclear bélica no mundo.
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