Sol corrói a atmosfera de Marte há bilhões de anos, revela Nasa

Publicado em: 07/07/2025 21:48

NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – Marte é hoje um deserto gelado, coberto por poeira, mas já teve rios, lagos e uma atmosfera espessa, talvez até capaz de abrigar vida.

Pela primeira vez, cientistas da Nasa observaram diretamente como o Sol ainda destrói a atmosfera marciana, num processo que pode ter sido decisivo para o desaparecimento da água e o fim da habitabilidade no planeta.

O planeta vermelho começou a perder sua atmosfera há bilhões de anos, num processo em que o Sol teve papel crucial. Os cientistas da missão Maven (Mars Atmosphere and Volatile Evolution), da agência espacial americana, conseguiram capturar esse mecanismo em pleno funcionamento.

Marte começou a perder sua atmosfera há bilhões de anos, num processo em que o Sol teve papel crucial. A descoberta foi publicada em maio na revista Science Advances.

Conhecido como erosão solar (“sputtering”, em inglês), o fenômeno acontece quando o vento solar -um jato contínuo de partículas carregadas vindas do Sol- bombardeia Marte, arrancando átomos de sua atmosfera e os lançando ao espaço.

Os ventos solares são especialmente danosos à atmosfera marciana porque o planeta não possui um campo magnético global, como temos na Terra, que atua como uma espécie de escudo invisível, desviando as partículas solares e protegendo nossa atmosfera.

Por ser menor que a Terra, o núcleo de Marte esfriou rapidamente, perdendo seu campo magnético ativo. Sem essa defesa, a atmosfera marciana foi lentamente consumida pelo vento solar.

Até então, esse tipo de desgaste atmosférico era apenas previsto por modelos teóricos. O registro da sonda Maven confirma que o planeta ainda perde atmosfera causada pelo Sol.

Com a perda de pressão atmosférica, o planeta vermelho secou: a água evaporou, parte se congelou no subsolo ou escapou silenciosamente para o espaço.

A presença de água é uma das condições fundamentais para que um ambiente seja considerado potencialmente habitável, ao menos pela vida como a conhecemos.

A sonda Maven flagrou átomos de argônio sendo expulsos da alta atmosfera marciana, acima de 350 km de altitude.

Segundo David Brain, físico da Universidade do Colorado e coautor do estudo, esse bombardeio solar é um dos poucos processos capazes de remover partículas mais pesadas da atmosfera.

A destruição da atmosfera marciana levanta novamente a antiga pergunta que intriga cientistas: Marte já teve vida?

Encontrar sinais de vida microbiológica no passado marciano é um desafio monumental. “Na Terra, mesmo com acesso facilitado que temos às amostras, ainda é difícil saber exatamente quando a vida surgiu”, lembra Janet Luhmann, física da Universidade da Califórnia em Berkeley e coautora da pesquisa.

Jasper Halekas, físico da Universidade de Iowa e também coautor, é cauteloso. “Acho improvável que Marte tenha abrigado vida, a menos, talvez, que ela tenha sido transportada da Terra.”

Ele se refere à hipótese da panspermia, segundo a qual meteoritos poderiam levar microorganismos de carona de um planeta a outro. “Há também a possibilidade, mais plausível, de que tenhamos contaminado Marte com nossas próprias missões espaciais”, escreve à Folha.

Encontrar vida em Marte teria implicações profundas. “Responderíamos à velha pergunta: ‘Estamos sós no Universo?’. Isso poderia mudar radicalmente nossa compreensão sobre o lugar da humanidade no Cosmos”, especula David Brain.

O astrobiólogo Douglas Galante, da USP, desenvolve técnicas para identificar vestígios de vida em rochas antigas, tanto na Terra quanto em Marte. O robô Perseverance, da Nasa, coleta amostras de solo marciano que devem retornar à Terra nos próximos anos.

Segundo Galante, há indícios de que água líquida ainda se esconde em bolsões subterrâneos de Marte, com potencial de sustentar vida.

Com o avanço de telescópios gigantes, como o TMT (Thirty Meter Telescope), no Havaí, Galante diz acreditar que poderemos ter pistas mais concretas sobre a existência de vida em outros mundos. “Em menos de dez anos”, estima.

Além de Marte, outras regiões do Sistema Solar despertam expectativas. As luas Europa (de Júpiter) e Encélado (de Saturno) possuem vastos oceanos subterrâneos aquecidos por forças gravitacionais e potencial abrigo para vida extraterrestre.

Encélado é ainda mais espetacular, diz Galante: a pequena lua possui gêiseres que disparam jatos quilométricos de água congelada ao espaço –um espetáculo registrado pela sonda Cassini durante seus 13 anos orbitando Saturno.

Vênus também entra nessa busca. Nos anos 1960, Carl Sagan especulava sobre microrganismos flutuando nas nuvens do planeta. Décadas depois, em 2020, um estudo anunciou a possível presença do gás fosfina (PH?), associado à vida. A hipótese reacendeu o debate, embora ainda cercada de controvérsia científica.

Marte pode ter abrigado vida há bilhões de anos, quando rios caudalosos banhavam seus vales e lagos pontilhavam a superfície. Hoje, o planeta guarda apenas as cicatrizes dessa era úmida: leitos de rios fossilizados, deltas secos e minerais que só se formam na presença de água líquida.

Ainda assim, o planeta vermelho não perdeu sua beleza. Continua instigando nossa busca por sinais de que, em algum lugar do Cosmos, talvez não estejamos sós.

A observação inédita do “sputtering” lança nova luz sobre o mistério da atmosfera perdida de Marte -e pode orientar futuras missões, com sondas, robôs ou, quem sabe, humanos em busca dos rastros de uma possível vida marciana.

Estudo afirma ter encontrado o local ideal para base humana em Marte

A região citada pelo estudo aponta para uma região de Marte que permitiria acesso rápido a recursos naturais no ‘Planeta Vermelho’, uma condição considerada crucial para a permanência a longo-prazo.

Notícias ao Minuto Brasil | 10:35 – 06/07/2025


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