‘Sou muito mais do que uma mulher gostosa’, diz Magda Cotrofê, sex symbol dos anos 80
(FOLHAPRESS) – Magda Cotrofê, 62, decidiu que era hora de contar sua história. A modelo, atriz e empresária está lançando “O Outro Olhar de Magda Cotrofê”, biografia em que lembra os tempos em que dividia o posto de maior sex-symbol brasileira com Xuxa e Luiza Brunet e revela detalhes pouco conhecidos de sua trajetória. Não estranhe: o sobrenome dela agora tem acento circunflexo, por sugestão da numerologia.
Na entrevista a seguir, Magda fala sobre os bastidores do livro, relembra momentos marcantes da carreira e comenta os tempos de ensaios sensuais e passarelas. Ela também encara com franqueza temas como assédio e envelhecimento, e o desafio de ser levada a sério em um meio onde ser bonita muitas vezes era sinônimo de ser descartável.
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PERGUNTA – Por que você decidiu lançar sua biografia “O Outro Olhar de Magda Cotrofê”?
MAGDA COTROFÊ – Tudo na vida tem seu momento certo. Eu já tinha essa ideia, esse desejo há muito tempo, mas nunca tive oportunidade. Cheguei a conversar com alguns editores, as negociações até avançavam, mas não iam até o fim. Desta vez, aconteceu.
P – Quais são os pontos da sua biografia que você considera mais delicados e os mais interessantes?
MC – Olha… o mais interessante é o título do livro. Essa questão do “outro olhar”, das pessoas me enxergarem por outro ângulo, outro prisma, não apenas pelos holofotes. É uma Magda mais íntima, mãe, empreendedora, guerreira, com mil e uma facetas. A parte mais delicada é sobre a vida que a gente leva e que muitas pessoas nem imaginam.
P – Pode dar um exemplo?
MC – Eu sou muito reservada. Sempre fui e nunca expus muito minha vida. Nesse livro, abordo alguns momentos difíceis da minha trajetória. Relacionamentos que não deram certo, o sofrimento por ser vista como um objeto, a necessidade constante de estar na defensiva para não me machucar.
P – Você tinha essa consciência, na época, de estar sendo vista como objeto?
MC – Tinha. Mas quando você está vivendo aquele momento, não liga muito. Você pensa: “Ok, tudo bem, isso vai passar, vamos para a próxima.” Você finge que está tudo bem. Só que, com o tempo, à medida que vai envelhecendo, começa a pesar. Você reflete: “Eu sou muito mais do que uma mulher gostosa.” Era isso.
P – É verdade que você foi a primeira mulher a usar um biquíni fio-dental?
MC – Verdade. Nome feio, né? (risos). Tinham dois modelos: o fio-dental e o asa-delta. Foram lançados quase juntos, entre 1985 e 1987, e eu fui chamada pelo Cidinho Pereira, empresário da marca de biquínis Bumbum, para ser meio que a musa inspiradora. Fomos lançar em Ibiza, na Espanha. Foi um sucesso no bumbum das brasileiras, mas não era exatamente uma novidade.
P – Como assim?
MC – Naquela época, já havia uma libertação dos corpos. Tínhamos acabado de sair da ditadura militar, e todo mundo queria se soltar, mostrar essa liberdade em todos os sentidos. Já não era algo tão escandaloso. Usar fio-dental não era um escândalo. Claro, era admirado, elogiado por muitos, mas também havia um grupo que criticava, torcia o nariz para quem era mais “ousada”. Modéstia à parte, meu bumbum era muito bonito.
P – Você posou três anos consecutivos para a Playboy e fez outros ensaios nus, um recorde.
MC – Depois que você faz o primeiro… (risos) já não é tão problemático. Encarava com certa normalidade. Mas a primeira vez foi bem difícil. Chegaram a me convidar várias vezes para ser a Garota Playboy e eu recusei. Isso numa época em que só atrizes e modelos muito famosas faziam os ensaios. Depois, pensei melhor, me senti dona do meu nariz, achei que ninguém tinha nada a ver com isso… e fiz.
P – E o cachê?
MC – Era muito bom. Nada que resolvesse a sua vida do tipo “nunca mais preciso trabalhar”, mas foi bom. Não tanto quanto diziam por aí, o pessoal aumentava muito. Fiquei sabendo de outros contratos, e as pessoas exageravam bastante. Mas deu para comprar um apartamento.
P – Existia alguma rivalidade?
MC – Sim, sempre existiu. A competição era acirrada. Eu odiava aquela coisa de seleção. Rolavam testes com 300 meninas para uma vaga. Era horrível. A gente ficava o dia inteiro naquele clima pesado, mas nunca fui vítima direta de maldades porque era esperta e sempre buscava ter meu próprio camarim.
P – Você sofreu assédio?
MC – Sim. Sempre existiu, mas era algo muito velado. Ninguém falava abertamente, nem saía dando nome aos bois. Havia muito medo de ser prejudicada, sabe? Eu já estava alerta para tudo o que envolvia esse meio das celebridades, então criei um tipo de escudo. Fingia que não entendia, ia levando, observando, fazendo amizades, e isso acabava desarmando os caras. Esse meio sempre foi cheio de panelinhas. Foi assim que virei o jogo. Quando passava dos limites, eu era bem direta.
P – Você sempre quis seguir a carreira de atriz?
MC – Na verdade, eu queria ser patinadora artística. Sempre quis ser atleta, mas também era aquela criança líder de turma, envolvida em tudo. Meu irmão foi fazer teatro, e eu fui também. Fiz cursos de teatro e até de patinação artística. Quando me mudei de Campos dos Goytacazes para o Rio, acabei me interessando pela carreira de modelo. Mas antes, queria mesmo era trabalhar, ter carteira assinada. Cheguei a ser recepcionista no Itaú.
P – Mas você fez faculdade de Jornalismo, teve marca de biquínis, foi estilista e virou designer de joias. Começou a pensar em abrir outras frentes ao perceber que a carreira de modelo era curta?
MC – Não. Você é modelo a vida inteira. Pode até não estar mais no mercado, por vários motivos, mas é modelo. Se alguém me chamar, eu vou, faço fotos lindas, desfilo sem problema. O que muda é o público, o mercado. Eu fui abrindo frentes porque sempre quis ter algo empresarial. Na verdade, eu vivo me reinventando.
P – Por que agora o “Cotrofê”?
MC – O som continuou o mesmo, mas eu coloquei o acento por causa da numerologia. Uma amiga me deu esse presente, e eu senti a diferença. A primeira coisa foi o livro, que finalmente saiu depois de anos, e agora parece que estou abrindo uma nova porta, sabe? O numerólogo disse que essa mudança representa um novo caminho a percorrer.
P – Você se considera feminista?
MC – Feminista? Não. Me considero feminina. Essa coisa de levantar bandeiras, ser radical… é preciso cuidado. As pessoas estão muito agressivas em relação a posicionamentos e opiniões. Claro que eu defendo e sempre estarei do lado das mulheres, mas dizer que sou feminista, não. Acho que ainda preciso estudar mais, me aprofundar no tema.
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