Tarifaço de Trump vai impactar PIB, pressionar inflação e desafiar empresas no Brasil

Publicado em: 11/07/2025 05:15

As tarifas de 50% impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre os produtos brasileiros, que devem entrar em vigor a partir de 1º de agosto se não forem revertidas, vão frear o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país, pressionar a inflação e aumentar o desafio para as empresas, segundo economistas.

Impacto no PIB

Para a XP, as estimativas apontam que as tarifas podem reduzir o crescimento do PIB em 0,30 ponto percentual em 2025 e 0,50 ponto percentual em 2026, com as exportações brasileiras para os EUA recuando US$ 6,5 bilhões em 2025 e US$ 16,5 bilhões no ano seguinte.

E, embora as exportações do Brasil para os EUA representem cerca de 1,9% do PIB, cerca de 40% desse total é composto por produtos manufaturados que têm baixa possibilidade de redirecionamento para outros mercados. Isso trará impactos diversos entre os setores. A exportação de carnes, por exemplo, poderá ser reabsorvida para outros mercados, enquanto nas aeronaves, o impacto será mais significativo, dada a natureza do produto e o peso dos Estados Unidos como destino.

O anúncio do percentual foi considerado inesperado e trouxe incerteza para o mercado, na avaliação de Claudia Moreno, economista do C6 Bank. As exportações para os EUA, que representam 2% de todo o PIB do país, deverão diminuir e parte destas vendas serão inviabilizadas, enquanto outra parte deverá ser reabsorvida por outros mercados.

O impacto exato ainda é difícil de estimar, segundo a economista, mas é possível que haja uma queda no crescimento de 2025 e de 2026 em aproximadamente 0,5 ponto porcentual, somando os dois anos, de acordo com Moreno.

Rafaela Vitoria, economista-chefe do Inter, pontua que as tarifas são negativas para a economia, tanto pela maior incerteza como pelo potencial queda da atividade, mas ressalta que este impacto deve ser limitado devido ao baixo volume das exportações brasileiras para os EUA.

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“A economia brasileira é bastante fechada ao comércio internacional, com elevadas tarifas de importação em geral. Além disso, nossa exposição ao mercado americano é relativamente pequena. Apesar de ser o 2º maior parceiro comercial, atrás da China, apenas 12% das nossas exportações têm como destino os EUA”, diz o relatório do Inter.

Pressão sobre inflação

Outro impacto estimado pelos economistas é sobre a inflação, por meio do câmbio. Caso a tarifa seja confirmada, deverá haver uma desvalorização do real pela devido à maior incerteza e à aversão ao risco, que faz com que os investimentos estrangeiros saiam do país.

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Esse movimento poderia ser um “entrave” ao atual processo de desinflação da economia brasileira, segundo o banco Inter.

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A instituição reitera que, por enquanto, o real ainda está longe dos patamares vistos no fim do ano passado, quando a taxa de câmbio chegou próximo a R$6,30. Além disso, o alto diferencial de juros entre a economia brasileira e americana tende a evitar movimentos mais abruptos na taxa de câmbio.

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“A médio prazo, o aumento das tarifas, não somente para o Brasil, deve levar a um impacto negativo na atividade, principalmente na produção industrial, que já se encontra em tendência de desaceleração. Dadas as condições financeiras adversas, com Selic a 15%, isso pode contribuir para uma desaceleração maior que o esperado do PIB, potencialmente gerando leituras negativas nos próximos trimestres. Diretamente, o impacto sobre o PIB tende a ser moderado, dada a baixa exposição da economia brasileira à americana, mas o risco de desaceleração da economia global deve persistir com a confirmação das elevadas tarifas impostas a diversos países”, diz o relatório do Inter.

Por enquanto, o C6 Bank mantém a projeção de um câmbio de R$ 5,50 para o final do ano, e inflação em 5%.

Para Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, o impacto inicial no mercado tende a ser negativo, mas deve perder força nos próximos dias, já que a balança comercial Brasil–EUA é favorável aos americanos. “Isso significa que essa tarifa pode gerar inflação por lá, o que coloca pressão interna para recuar”, avalia.

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Desafio para empresas

Para economistas e gestoras, a medida anunciada por Trump traz um elemento a mais para os desafios nos negócios brasileiros, especialmente para quem via nos EUA um mercado estratégico para expansão.

“O aumento de barreiras comerciais tende a frear investimentos, travar planos de internacionalização e exigir mais criatividade”, afirma Theo Braga, CEO da SME The New Economy. Para ele, a resposta é um fortalecimento do ecossistema interno, facilitando o acesso a crédito e promovendo políticas de incentivo à inovação.

“Em tempos de crise, os negócios que crescem são os que conseguem se adaptar rápido, revisar rotas e manter o foco na geração de valor real. O empreendedorismo precisa de ambiente estável para florescer, e isso começa com previsibilidade e visão de longo prazo”, diz.

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Pedro Da Matta, CEO da Audax Capital, destaca que o impacto nos fluxos de caixa, nas margens e na capacidade de captação de recursos será significativo, especialmente para empresas médias com menor resiliência. “É o tipo de cenário que exige inteligência financeira, reestruturação rápida e acesso a capital estratégico”, diz. “O Brasil precisa agir com firmeza, oferecendo alternativas concretas para que o setor produtivo mantenha competitividade e preserve valor em meio ao aumento das tensões geopolíticas”, afirma.

As empresas que dependem de cadeias de fornecimento globais ou têm operações voltadas para exportação estão mais vulneráveis devido ao aumento repentino de custos e a imprevisibilidade nas relações comerciais. “Isso exige uma gestão ainda mais atenta ao fluxo de caixa, ao crédito corporativo e à governança interna. O país precisa reagir com estratégia, oferecendo suporte às empresas que precisarão revisar seus modelos financeiros e adaptar suas operações”, afirma Jorge Kotz, CEO da Holding Grupo X.

Startups e empresas de base tecnológica que dependem de insumos importados ou têm planos de internacionalização agora lidam com um cenário mais hostil. “Tarifas elevadas exigem mais do que reação política, pedem uma resposta econômica baseada em inovação, diversificação e liderança”, João Kepler, CEO da Equity Group.


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