Trump diz não considerar ataques dentro da Venezuela após pressão sobre Maduro

Publicado em: 31/10/2025 19:18


SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta sexta-feira (31) que não considera ordenar ataques dentro da Venezuela. A declaração ocorre após semanas de tensão nas águas internacionais da América do Sul e de pressão sobre o regime do ditador Nicolás Maduro.

É, ainda, um recuo retórico de Trump. O presidente americano havia insinuado na semana passada que poderia ordenar bombardeios em solo contra cartéis de drogas latino-americanos -necessariamente, isso implicaria em violações da soberania de países como México, Colômbia e Venezuela.

Nos últimos meses, os EUA reforçaram a presença militar na região com o envio de caças, navios de guerra e milhares de soldados, superando o poder de fogo de toda a Venezuela. Washington devem expandir essa presença ainda mais com os deslocamentos do USS Gerald R. Ford, o maior e mais poderoso porta-aviões do mundo, e outras embarcações que o acompanham.

Questionado nesta sexta por jornalistas a bordo do avião presidencial americano se avalia a possibilidade de ataques dentro da Venezuela, Trump foi monossilábico: “Não”.

Em outubro, Trump confirmou ter autorizado a CIA, a agência de espionagem dos EUA com histórico de interferência na América Latina, a fazer operações secretas e letais dentro da Venezuela com o objetivo de derrubar Maduro do poder. Em conversa com a imprensa na Casa Branca, no último dia 15, o republicano disse que o país sul-americano “está sentindo a pressão” e, na ocasião, não descartou operações em terra.

Nesta quinta-feira (30), o Wall Street Journal disse em reportagem que as Forças Armadas americanas já identificaram alvos do Exército da Venezuela supostamente relacionados ao tráfico de drogas que poderiam ser atacados caso Trump dê a ordem. Um ataque direto contra solo venezuelano seria uma mensagem inequívoca de que Maduro precisa renunciar, segundo autoridades ouvidas pelo jornal sob condição de anonimato.

O ditador é acusado pelos EUA de tráfico internacional e de corrupção, o que ele nega. Ele diz que Trump tenta mudar o regime, mas que o povo e as Forças Armadas do país impedirão qualquer tentativa de derrubá-lo. O líder chavista foi empossado para um terceiro mandato neste ano, apesar de organizações internacionais independentes indicarem a vitória da oposição nas eleições que ocorreram no ano passado.

Trump tem justificado ataques contra embarcações na América Latina, desde setembro, com o argumento de combate ao narcotráfico. Segundo dados divulgados por Washington, 62 pessoas morreram em 16 ações do tipo. No entanto, nenhuma evidência foi apresentada de que os barcos estivessem ligados ao tráfico de drogas.

Mesmo que estivessem, a justificativa da Casa Branca é considerada vaga e controversa por especialistas em direito internacional, e o alto comissário da ONU para Direitos Humanos, Volker Türk, disse nesta sexta que os ataques são inaceitáveis. “Os EUA devem interrompê-los e tomar todas as medidas necessárias para impedir a matança extrajudicial das pessoas a bordo dessas embarcações, não importa os crimes dos quais são acusadas”, afirmou.

A campanha militar também é questionada por parlamentares americanos, que se movimentam há semanas para aprovar uma legislação a fim de restringir os ataques. Membros do comitê das Forças Armadas do Senado, que fiscaliza os militares americanos, disseram não ter recebido informações detalhadas sobre os bombardeios ou sobre os supostos traficantes mortos.

A Casa Branca afirma que, tendo classificado os cartéis de drogas latino-americanos como grupos terroristas, está autorizada a agir contra eles mesmo quando não há ameaça iminente, assim como os EUA fizeram em países como a Líbia, a Somália e o Iraque durante a Guerra ao Terror.

Senadores democratas e alguns republicanos, entretanto, citam o fato de que os supostos traficantes poderiam ter sido capturados, que facções criminosas não são comparáveis a grupos terroristas com objetivos políticos, e que não há provas suficientes de que os mortos de fato eram traficantes de drogas.

Diante da crescente presença militar americana na região, a oposição na Venezuela se divide sobre como reagir. O grupo liderado pela vencedora do Prêmio Nobel da Paz, María Corina Machado, apoia o governo Trump e defende o reforço americano na região. Já a ala comandada por Henrique Capriles, duas vezes candidato à Presidência, rejeita qualquer intervenção armada e propõe retomar negociações com Maduro e Washington, apesar do histórico de impasses.

Já o regime em Caracas teria pedido assistência militar a aliados como China, Rússia e Irã em preparação para uma escalada militar, de acordo com documentos da inteligência americana aos quais o jornal The Washington Post teve acesso. Segundo o veículo, a Venezuela teria solicitado radares, peças de reposição de aviões e mísseis a Pequim, Moscou e Teerã.

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