Trump vai ao Texas em meio a críticas por resposta a enchentes com 121 mortes
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, viaja nesta sexta-feira (11) para o centro do Texas, epicentro das enchentes que já mataram 121 pessoas e deixaram dezenas de desaparecidos, um desastre que tem rendido críticas a autoridades locais e federais.
O republicano e a primeira-dama, Melania Trump, devem passar algumas horas no estado para conversar com familiares das vítimas e equipes de emergência, de acordo com uma autoridade da Casa Branca. O casal pretende visitar locais no Condado de Kerr, conhecido como “beco das enchentes repentinas”, uma região que já registrou algumas das inundações mais mortais do país.
O presidente americano afirmou que pretendia fazer a visita no início da semana, mas disse que queria esperar para “não atrapalhar ninguém”. Nesta sexta, uma semana após a tragédia, milhares de socorristas ainda vasculham escombros lamacentos em busca dos desaparecidos, com esperanças quase nulas de encontrar sobreviventes.
No dia 4 de julho, feriado do Dia da Independência dos EUA, mais de 30 cm de chuva caíram em menos de uma hora, uma chuva torrencial que fez o rio Guadalupe subir de cerca de 30 centímetros para 10,4 metros em questão de horas, inundando suas margens e arrastando árvores e estruturas no caminho.
Trata-se do desastre mais mortal dos quase seis meses de mandato do presidente republicano. Os mortos incluem pelo menos 36 crianças, muitas das quais acampavam no Camp Mystic, um acampamento de verão cristão para meninas às margens do rio.
O presidente descreveu a enchente no Texas como um ato inevitável da natureza -“uma catástrofe de cem anos”, como ele disse-, e elogiou o governador republicano Greg Abbott e outras autoridades locais pela resposta ao desastre. A reação das autoridades, porém, incluindo seu governo, vêm enfrentando intenso escrutínio, que inclui questionamentos sobre o que poderia ter sido feito para alertar a população sobre a elevação das águas.
Um dos eixos da preocupação é em relação a cargos vagos em escritórios locais do NWS (Serviço Nacional de Meteorologia, na sigla em inglês) e da Fema (Agência Federal de Gestão de Emergências). De acordo com o The Washington Post, o governo federal recuou na abolição da agência, que vinha sendo aventada há meses.
Segundo um funcionário de alto escalão que falou com o jornal americano, nenhuma medida para encerrar o órgão foi tomada. Trump, por sua vez, tem evitado questionamentos sobre seus planos anteriores de reduzir ou extinguir a agência. “Conto isso em outra ocasião”, afirmou na última terça-feira (8), quando questionado sobre o assunto por um jornalista.
No final do ano passado, autoridades do Condado de Kerr afirmaram, em um relatório de 220 páginas para a Fema, que era provável que a região sofresse uma inundação este ano, segundo reportagem do The New York Times. As enchentes representavam um perigo em especial para pessoas em “estruturas precárias”, concluíram as autoridades, e uma solução para o problema seria instalar um sistema de alerta de enchentes que custaria até US$ 1 milhão -verba da qual o órgão dispunha.
O relatório foi redigido após anos de tentativas frustradas de garantir financiamento para tal sistema de alertas, segundo o jornal americano -foram identificadas pelo menos três ocasiões, entre 2017 e 2024, em que autoridades locais buscaram financiamento para a tecnologia, mas foram rejeitadas pelo estado.
Na segunda (7), o principal democrata do Senado americano, Chuck Schumer, solicitou que um órgão de fiscalização do governo investigue se os cortes no NWS afetaram a resposta. A agência defendeu sua previsão e gestão de emergências, observando que designou meteorologistas extras para dois escritórios no Texas durante o feriado prolongado.
A gestão Trump, por sua vez, afirmou que a agência tinha pessoal suficiente e respondeu adequadamente a “um caso fortuito”. No domingo (6), um repórter perguntou ao presidente se os cortes do governo prejudicaram a resposta ao desastre. “Não prejudicaram”, respondeu o republicano.
Segundo especialistas, o governo Trump tem usado a estratégia de “nós contra eles” na resposta ao desastre com mais frequência do que qualquer outro presidente nos últimos tempos.
Em contraste com o apoio ao governador do Texas, um aliado do republicano, Trump teceu duras críticas aos democratas eleitos na Califórnia quando incêndios florestais devastaram Los Angeles, em janeiro. Enquanto as chamas ardiam, ele acusou o governador Gavin Newsom e a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, de “grave incompetência”.
Meses depois, a Califórnia, bastião democrata, busca mais verbas federais para ajudar na recuperação da catástrofe -o Congresso, liderado pelos republicanos, ainda não liberou os US$ 40 bilhões em auxílio federal para recuperação de desastres solicitados por Newsom em fevereiro, por exemplo.
“Trump é excepcionalmente político”, diz a consultora em gestão de emergências Claire Rubin. “O contraste no tratamento na Califórnia e no Texas pode ser o exemplo mais flagrante de como esses eventos são politizados.”
Em resposta a essas críticas, a Casa Branca afirmou que Trump trata todos os estados da mesma forma, independentemente de suas tendências políticas.
“O presidente Trump liderou esforços históricos de recuperação de desastres tanto na Califórnia quanto na Carolina do Norte -e ele está fazendo o mesmo no Texas”, disse a porta-voz da Casa Branca, Abigail Jackson. “Qualquer alegação de que o presidente está dando tratamento preferencial a certos estados não é apenas errada, é idiota e desinformada.”
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